sábado, 7 de junho de 2008

Portugal pós-Sócrates

"Sócrates falhou. Internamente, fez pouco mais do que reduzir o défice e, por assim dizer, "reformar" a Segurança Social. No resto não mexeu ou, quando tentou mexer, recuou ao menor sinal de sarilho. A melancólica saída de Correia de Campos foi uma capitulação. Agora, imobilizado pela crise mundial, chegou àquela fase de "resistência" irrealista e cega de um político sem futuro. Mas por muito que ele não queira perceber que o "seu" Portugal não vai durar, já por toda a parte toda a gente pensa na sucessão. O comício de Louçã e Alegre e o advento de Manuela Ferreira Leite mostraram, cada um à sua maneira, uma ânsia de sair da espécie de prisão em que Sócrates nos meteu. Evidentemente, não há ainda, nem interessa que haja, nenhum plano claro. Por enquanto, basta explorar as possibilidades.
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Primeiro, as possibilidades parlamentares. Se o PS perder a maioria absoluta, tem dois caminhos para continuar no governo. Um caminho à esquerda, isto é, uma coligação pós-eleitoral com o Bloco, que Alegre manifestamente prepara e aprovaria (e que por força implicaria a exclusão de Sócrates, como chefe do "desvio" conservador do partido). E uma aliança com o PSD de Manuela Ferreira Leite, para persistir - com algumas correcções - na estratégia financeira e social estabelecida e até para rever a Constituição (em matéria de leis de trabalho, por exemplo). Consta que Manuela Ferreira Leite e José Sócrates não se apreciam excessivamente. O que não é grave, se as circunstâncias não lhes permitirem outra solução.
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Tanto a hipótese PS-Bloco como a hipótese PS-PSD não seriam pacíficas. Nem no país, nem nos partidos. Dependente do Bloco, e mesmo se o Bloco por milagre amainasse, o PS afastava em definitivo o eleitorado "respeitável" da direita e do centro e acabava de liquidar a economia. Aliado a Ferreira Leite, ficaria sem a sua ala esquerda e iria imediatamente engrossar o PC e o Bloco. Para não falar em Manuela Ferreira Leite, a quem uma aliança com o PS não ajudava com certeza a meter e a conservar na ordem o populismo interno. A escolha para Portugal não é prometedora: ou uma aventura de esquerda anacrónica e destrutiva ou o ridículo renascimento do "centrão". O falhanço de Sócrates não se limitou a trocar uma verdadeira reforma por uma reforma falsa. Deixou um Portugal caótico, indefeso e fraco. (Vasco Pulido Valente - Público)

1 comentário:

Tiago R Cardoso disse...

Sinceramente não credito num Portugal pós-Sócrates, pode ser que haja mas o ligar seria ocupado por quem ?

O grande mal é não existirem alternativas crediveis.