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«Uma pessoa entra na urgência do Hospital Amadora Sintra pelas 18:00, para ali transportada pelo INEM, o serviço de emergência médica. Queixa-se de uma dor no peito e de um agonia na zona do coração. Seis horas depois é, enfim, atendida por um médico, para uma observação que não chega a durar um minuto. Segue para recolha de sangue e um electrocardiograma. Feito este, diagnosticam, de súbito, um enfarte em curso há horas. A lentidão transforma-se agora em pressa, o desinteresse em preocupação: surgem, das entranhas do corredor, um monitor cardíaco, um disfribilhador, oxigénio, soro.
«Uma pessoa entra na urgência do Hospital Amadora Sintra pelas 18:00, para ali transportada pelo INEM, o serviço de emergência médica. Queixa-se de uma dor no peito e de um agonia na zona do coração. Seis horas depois é, enfim, atendida por um médico, para uma observação que não chega a durar um minuto. Segue para recolha de sangue e um electrocardiograma. Feito este, diagnosticam, de súbito, um enfarte em curso há horas. A lentidão transforma-se agora em pressa, o desinteresse em preocupação: surgem, das entranhas do corredor, um monitor cardíaco, um disfribilhador, oxigénio, soro.
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Essa pessoa está internada nos cuidados intensivos. Tem 85 anos de idade.
Essa pessoa está internada nos cuidados intensivos. Tem 85 anos de idade.
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Seis horas depois de ter entrado na urgência hospitalar, a urgência viu que, afinal, era urgente.
Seis horas depois de ter entrado na urgência hospitalar, a urgência viu que, afinal, era urgente.
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Podia ser a história de toda a gente que tem a desgraça de nascer em Portugal e de acreditar nas reformas do Serviço Nacional de Saúde. No caso é a minha mãe.
Podia ser a história de toda a gente que tem a desgraça de nascer em Portugal e de acreditar nas reformas do Serviço Nacional de Saúde. No caso é a minha mãe.
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Quando pelas onze e meia fui saber o que se passava, uma feroz funcionária atendia aos rompantes uma jovem mãe, negra, o filhito ao colo assustado sem saber que para além do medo que sentia, deveria ter medo, sim, mas do lugar onde estava. No corredor dois médicos conversavam tranquilos, a longa noite da indiferença prosseguia o seu ritmo.»
Quando pelas onze e meia fui saber o que se passava, uma feroz funcionária atendia aos rompantes uma jovem mãe, negra, o filhito ao colo assustado sem saber que para além do medo que sentia, deveria ter medo, sim, mas do lugar onde estava. No corredor dois médicos conversavam tranquilos, a longa noite da indiferença prosseguia o seu ritmo.»
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(In O JUMENTO)
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