O discurso de Ano novo do Presidente da República esteve longe do tom jubilatório seguido no Natal pelo primeiro-ministro, José Sócrates. Segundo informa o jornal Público, Cavaco Silva adoptou uma das principais críticas da rua: "Não podemos deixar de nos inquietar perante as desigualdades na distribuição do rendimento que as estatísticas revelam", disse na mensagem transmitida pela RTP.
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As estatísticas revelam, por exemplo, que Portugal é o país da União Europeia (UE) onde há mais desigualdades entre ricos e pobres. Cavaco Silva não falou nem dos mais ricos nem dos mais pobres, mas apontou esta discrepância "comum" em Portugal: "Sem pôr em causa o princípio de valorização do mérito e a necessidade de captar os melhores talentos, interrogo-me sobre os rendimentos auferidos por altos dirigentes de empresas não serão, muitas vezes, injustificados e desproporcionados, face aos saláriosmédios dos seus trabalhadores".
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Cavaco Silva admitiu que as reformas da saúde - um dos sectores mais contestados - servem objectivos que os portugueses não entendem, predominando ainda a ideia de que são os mais fracos as principais vítimas.
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"Seria importante que os portugueses percebessem para onde vai o país em matéria de cuidados de saúde", disse, depois de apontar o seguinte: "O acesso aos cuidados de saúde é uma inquietação de muitos portugueses. Não estão seguros de que os utentes, principalmente os de recursos mais baixos, ocupem como deve ser, uma posição central nas reformas que são inevitáveis para assegurar a insustentabilidade financeira dos serviços de saúde".
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Cavaco manifestou-se convicto de que Portugal poderá vencer o desemprego - "atingiu níveis preocupantes" - e aproximar-se "do nível de desenvolvimento médio da União Europeia", mas assumiu que, para vencer estes e outros desafios, é preciso mudar de atitude: "Será altamente vantajoso o aprofundamento do diálogo entre os agentes políticos e do diálogo entre os poderes públicos e os grupos e parceiros sociais".
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"Perante as dificuldades de crescimento da nossa economia, perante a angústia daqueles que não têm emprego e a subsistência de bolsas de pobreza, devemos concentrar-nos no que é essencial para o nosso futuro comum, e não trazer para o debate aquilo que divide a sociedade portuguesa", defendeu.
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Mais diálogo também no sector da educação, defendeu o Presidente, sublinhando que é necessário "melhorar o clima de confiança entre todos os intervenientes no processo educativo". Esta é uma das chaves para se "reduzir o atraso de qualificação dos nossos jovens".
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A propósito da nova vaga de fundos comunitários, a começar já este ano, Cavaco insistiu na necessidade de uma maior racionalidade e voltou também ao tema da corrupção, embora sem o nomear: "Exige-se que estes fundos sejam aplicados com verdadeiro sentido estratégico e geridos com eficiência e transparência. É uma oportunidade que não podemos desperdiçar".
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Quanto à justiça, Cavaco Silva considerou que, para além das "importantes reformas" aprovadas neste sector, o funcionamento do sistema de justiça continua a ser "um obstáculo ao progresso económico e social do país".
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