segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Empregado está há 17 anos na "prateleira"

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Empregado está há 17 anos na "prateleira"
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"Já não tens lugar nesta empresa, resta-te o vão de escada". As palavras do administrador continuam vivas na memória do ex-director financeiro como se não tivessem passado 17 anos. Sem tarefas atribuídas, continua a cumprir horário e a enfrentar os colegas, para quem é apenas "o funcionário na prateleira".
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Estava há 11 anos num cargo de direcção de uma conhecida empresa portuguesa de construção civil quando foi chamado ao gabinete do administrador. O superior hierárquico disse-lhe que era "personna non grata" e propôs-lhe a rescisão de contrato. Nesse dia, Rui (nome fictício) percebeu que a sua carreira tinha acabado.
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"Foi em 1991 que a brutalidade começou. O administrador chamou-me e disse-me 'já não tens lugar nesta empresa, resta-te o vão de escadas'", recorda.
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Primeiro, tiraram-lhe o cargo de chefia. Depois passou a responder a ordens num departamento de contabilidade. Quando a empresa mudou de instalações, ficou na velha moradia arrendada, "sem funções e isolado": "Sentia-me diminuído, foi uma experiência extremamente dolorosa de ostracismo".
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Mais tarde passou para uma sala gigante com várias secretárias e computadores, "o departamento dos escriturários", onde jovens trabalhavam freneticamente enquanto ele aguardava ordens, que surgiam muito esporadicamente.
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"Davam-me funções menores, que eu me recusava a fazer por não serem adequadas à minha categoria e experiência profissional. Faziam-no para me poderem acusar de não cumprir ordens". Mas a situação agravou-se ainda mais em 1997, ano em que deixaram de lhe atribuir tarefas.
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Quando a administração decidiu substituir o equipamento informático obsoleto, deu ordens para que não se mexesse na secretária de Rui. Na sala, a mesa do ex-director distingue-se bem: entre modernos computadores, está a velhinha máquina, "muito mais antiga e ultrapassada".
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Matou o tempo a estudar e já é mestre
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Obrigado a cumprir o horário, Rui arranjou forma de não enlouquecer. Começou por tirar uma pós-graduação, estudou para o mestrado, que entretanto concluiu com êxito, e agora já está na fase final do doutoramento. É também na secretária da empresa que muitas vezes prepara as aulas que lecciona num instituto politécnico.
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Mas não é de ânimo leve que conta a sua história. São 17 anos a trabalhar para uma empresa que, segundo o próprio, quer o seu "desgaste e achincalhamento para que aceite uma rescisão".
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E nem a relação com os colegas ajuda: "Estou diminuído em termos de capacidade profissional, sinto um certo complexo a nível de relacionamento com os outros pelo facto de toda a gente saber que estou na prateleira".
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"Acho que isto é um crime pessoal, é um atentado à dignidade da pessoa". Rui tinha apenas 44 anos quando tudo começou. (Jornal de Notícias)
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Nota do Papa Açordas: Infelizmente, é uma situação que em Portugal está a tornar-se corriqueira. Até na Administração Pública, temos conhecimento de casos destes, o que é lamentável. A Autoridade para as Condições no Trabalho devia estar atenta a estes casos e punir, de uma forma categórica, as empresas e os directores que assim procedem para com os seus funcionários.
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3 comentários:

Tiago R Cardoso disse...

Uma vergonha de país, coloca-se gente capaz na prateleira e outros sobem e avançam.

Uma situação terceiro mundista, no mínimo...

Anónimo disse...

Na Auditoria dos Correios, no Porto, também há um caso destes. Um funcionário superior queixou-se do chefe ao administrador, e foi colocado na prateleira. Este caso tem mais de dez anos.
Pica Pau

Anónimo disse...

-trabalhei num banco q não digo o nome para não ir vomitar e fizeram-me o mesmo.Assim como o Rui, estou na universidade a terminar o meu curso.Grande abraço de apreço.