terça-feira, 14 de outubro de 2008

A CHEGADA DE "EL COMANDANTE" SÓCRATES

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«José Sócrates anda a privar demasiado com Hugo Chávez. Tivesse ele trocado o fato cinza pelo verde caqui durante a sua última intervenção na Assembleia da República e quase nem se dava pela diferença. Só faltou chamar nomes feios a George W. Bush. Inchado de entusiasmo perante o afundamento da economia mundial, José "El Comandante" Sócrates falou numa "ideologia derrotada" e apresentou a lista dos insidiosos pecadores: "os apóstolos do Estado mínimo e do mercado desregulado", os que "anos a fio enalteceram as virtudes imbatíveis de um mercado entregue a si próprio", os que "sempre professaram a fé na mão invisível do mercado" e que agora, na hora do aperto, vêm a correr pedir a intervenção da "mão bem visível do Estado". Capitalistas, tremei.
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Sócrates até pode estar certíssimo na sua análise. Só lhe falhou um pormenor: enganou-se no país. Durante os seus delírios no Parlamento, Pedro Silva Pereira deveria ter dado um toque suave no seu ombro e murmurado ao ouvido: "El Comandante", isto aqui é Portugal." Muito provavelmente por estar a acompanhar intensamente as eleições americanas e a tentar fixar as frases de Barack Obama, Sócrates já anda a confundir Lisboa com Washington e o PSI 20 com o Dow Jones. Sequer sugerir que terá havido um tempo, fora do século XIX, em que o País andou enrolado com as doutrinas liberais é argumento digno da mais alta comédia. Em 1974, o peso do Estado na economia portuguesa era de 23%. Em 1980, escassos seis anos depois, saltara para 33%. Quando Cavaco pegou no governo em 1985 situava-se nos 39% e quando saiu já ia nos 43%. Com Guterres subiu para 45%. Com Durão e Santana para mais de 46%. E no próprio consulado de José Sócrates já andou a pisar os 48%. "Fé na mão invisível do mercado?" Apenas três palavras de comentário: ah, ah e ah.
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Ainda no seu último número a Visão informava que 14 das 20 maiores empresas portuguesas cotadas em bolsa têm antigos governantes nos lugares mais elevados de decisão. Tal deve-se certamente à leveza do Estado e à sua reconhecida competência na formação de gestores de topo. José Sócrates tem talento para a liderança, mas é um homem perigoso quando se deixa levar pelos encantos do poder. Ele preside a um dos governos mais controladores de que há memória em Portugal, com pouquíssimo respeito pelo papel de vigilância da comunicação social e uma armada de assessores com grande inclinação para a propaganda. Ouvi-lo louvar o papel do Estado e reclamar maior intervenção para si próprio causa suores frios e arrepios na espinha. Muito pior do que a mão invisível do mercado a afundar a bolsa seria a mão bem visível do Estado a sair do bolso. Caro "El Comandante": se é esta a sua cura, mais vale continuar doente.»(João Miguel Tavares - Diário de Notícias)
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1 comentário:

Tiago R Cardoso disse...

isto de o Chavez vir tantas vezes cá está deixar o país mal frequentado, no mínimo...