sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

PSD, SOMAGUE E UMA ABSOLUTA FALTA DE VALORES


«Aconteceu na Suécia. Poucos dias após a tomada de posse, em Outubro de 2006, o primeiro-ministro de centro-direita Fredrik Reinfeldt foi obrigado a substituir duas ministras do seu governo na sequência de pequenos "escândalos" relatados pela imprensa. Maria Borelius, com a pasta do Comércio Externo, saiu passados oito dias e Marie Cecilia Chilò só durou mais dois dias como ministra da Cultura.
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Quais foram, afinal, os pecados que levaram a este desfecho precoce e radical? Tinham, anos antes, contratado e pago a empregadas para tomar conta das suas crianças em casa sem fazerem os descontos obrigatórios para a Segurança Social, como vieram a admitir. Sobre Borelius havia uma segunda acusação: há 15 anos que não pagava a taxa de televisão.
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Visto do Sul da Europa, o grau de "pureza" exigido na Suécia para o exercício da política raia o utópico e, até, o desnecessário e contraproducente. Como se tem visto crescentemente, se este padrão fosse aplicado em Portugal sobrariam poucas pessoas para formar um governo e ocupar as bancadas parlamentares, os cargos superiores da administração pública e as autarquias.
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Mas ainda que se descarte conscientemente a implacável exigência nórdica, a alternativa não tem que ser o outro extremo, o "vale tudo", como está a tornar-se regra.
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A desvalorização e o relativismo ético e moral com que a classe política está a olhar para o caso PSD/Somague - excepção feita ao Bloco de Esquerda, que nesta matéria parece ser o único sem telhados de vidro - são mais uma prova disso.
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O caso é grave como poucos. Provou-se, pela primeira vez, que uma empresa, por sinal especialmente activa no mercado das obras públicas, financiou de forma ilegal e dissimulada um dos maiores partidos do país, que tem passagens regulares pelo Governo e lidera largas dezenas de câmaras municipais.
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Ninguém tem ilusões. Há centenas de casos semelhantes que envolvem a generalidade dos partidos e empresas com variados interesses. Mas este soube-se, foi devidamente tratado pela Entidade das Contas e acaba de ser punido pelo Tribunal Constitucional. É uma ínfima ponta do imenso icebergue, mas é a ponta visível.
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Num país onde restasse alguma dignidade, um acto destes faria rolar cabeças e levaria a investigações para averiguar a existência de crime - houve contrapartidas para a Somague? Se não, como é que Diogo Vaz Guedes justifica aos pequenos accionistas da empresa este donativo encapotado?
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Mas o PSD, pela voz de Ribau Esteves, veio reduzir tudo a um "desleixo", uma "situação desagradável", um acto sem "dolo ou má-fé". Com tanta autocomplacência e falta do mais elementar sentido de Estado perante um dos cancros maiores do sistema democrático, a pergunta é legítima: se o caso é tão insignificante, vai o partido manter estas práticas de financiamento?
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Vieira de Castro, então secretário-geral adjunto do PSD, é o único responsável partidário responsabilizado directamente pelo Tribunal Constitucional. É o elo mais fraco da hierarquia de um partido político que não sabe o que é a responsabilidade política. José Luís Arnaut, secretário-geral, não sabia de nada e Durão Barroso, presidente do partido, também não - de igual modo, passados dois anos, já no Governo, nenhum deles tomou conhecimento da garantia que terá sido dada à Estoril-Sol sobre a posse do edifício do Casino Lisboa.
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Portanto, os dois responsáveis máximos do PSD não sabiam como foi paga a renovação de imagem gráfica e visual do partido, uma das tarefas pedidas à empresa de publicidade que a Somague simpaticamente pagou. A forma como os partidos são geridos não pára de surpreender.
Menos surpreendentes são certas práticas empresariais. É fácil ir para os palcos do Compromisso Portugal e fóruns semelhantes falar de transparência, da separação entre o Estado e os negócios e da promoção da concorrência. Tão fácil como, à primeira oportunidade, financiar por baixo da mesa um partido, subvertendo de uma assentada todos esses bons princípios. Foi isto que fez Diogo Vaz Guedes.
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Ele e os restantes envolvidos, sabendo todos que estavam a alimentar o cancro do financiamento partidário ilegítimo e tudo o que ele implica. São estas as elites que temos: prometem-nos a Suécia mas só nos levam para o Sul de Itália.» [Público assinantes]
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In " O JUMENTO" , 22-02-2008

1 comentário:

A. João Soares disse...

Num post colocado em 2 de Fevereiro em Do Miradouro, refiro este caso que é exemplar:
«Em 1996, na Coreia do Sul, dois antigos Presidentes que tinham sido dois fortes pilares no desenvolvimento do País na fase muito positiva da construção da economia nacional que elevou o País na concorrência mundial, ouviram as sentenças por terem sucumbido ao favorecimento de empresas a troco de «atenções», RohTae-Woo foi condenado a 22 anos de prisão e Chun Doo Hwan foi condenado à morte. O bom trabalho que o País lhes devia não impediu estas sentenças exemplares.»

Mas não estamos em país civilizado e com valores éticos e, por isso, é o que se sabe e nem se pode provar!!!
Abraço