sábado, 2 de fevereiro de 2008

Quem tem estômago

"O sr.ministro da Saúde pediu a demissão ou foi demitido pelo sr.primeiro-ministro. Numa variante, pediu a demissão; noutra variante, foi demitido; e ainda noutra variante seria demitido até se, por acaso, não pedisse a demissão. Houve, por assim dizer, uma troca telepática entre o sr. ministro da Saúde e o primeiro-ministro, que permitiu ao sr. primeiro-ministro correr com o sr. ministro da Saúde, sem, de facto e no fundo, correr com ele. Este fenómeno paranormal não ocorreu porque o sr. primeiro-ministro estava em risco de perder a sua reputação de reformador "intransigente" e "determinado", ou porque o dr.Cavaco e o dr.Alegre exigiam que o ministro saísse, ou porque o bom e sempre sensato povo português se manifestava contra ele, ou porque a saúde vale votos. Não, senhor. Ocorreu, porque existe no universo uma força que intervém, quando o interesse pessoal de Sócrates começa por qualquer razão a periclitar.
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A essa força corresponde, de resto, uma força igualmente intensa com origem autêntica e directa no coração de Sócrates: Sócrates "compreende o sentimento psicológico das pessoas" (como coisa distinta do sentimento apsicológico das pessoas). Os pais, por exemplo, são "de uma aldeia, de Alijó", e ele aprendeu, presumívelmente desde pequenino, a compreender o "sentimento psicológico" das "pessoas de Alijó". Com esta compreensão, não podia, como é óbvio, deixar de pôr na rua o ministro da Saúde, quando o próprio ministro da Saúde, o Presidente da República e Manuel Alegre, sem qualquer antepassado em Alijó, chegaram, ninguém sabe como, à mesma conclusão.
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Claro que a política de saúde não vai mudar, com a nova ministra, a dra. Jorge, só por coincidência, amiga de Alegre. Sócrates, como ele muito bem lembrou, não volta atrás, nem cede a pressões. Se não fechar nenhuma urgência daqui em diante é porque muito livre e espontâneamente não quer fechar nenhuma urgência. Não cedeu e não voltou atrás. Sobretudo não mudou de política. Não fecha urgências: mais nada. Não fecha agora com tanta firmeza como dantes fechava. Com esta atitude irá com certeza "reforçar a confiança" dos portugueses no Serviço Nacional de Saúde. Como a reforçava fazendo exactamente o contrário. Excepto se, depois de 2009 e de uma segunda maioria, resolver o contrário do contrário.
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Quem tem estômago para isto? ( Público)
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Nota do Papa Açordas: Vasco Pulido Valente não se conforma com o despedimento do ministro da Saúde...

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