domingo, 10 de fevereiro de 2008

"Ainda há socialismo no PS?"

"Ainda há socialismo no PS?"

Vasco Pulido Valente

Manifestamente, a remodelação de Sócrates não sossegou Manuel Alegre. Afinal, a nova ministra da Saúde, a dra. Jorge, não passava de uma quase anónima apoiante da candidatura presidencial do "milhão de votos". Sexta-feira, já Alegre veio repetir que "não se revê neste PS". Na opinião dele, "este PS" optou pela "via gestionária", que na essência não se distingue da "conservadora", e criou na sociedade política portuguesa "uma alternativa sem alternativas". Pior, "ainda haverá socialismo" no PS? Ainda lá "se fala de socialismo"? Alegre acha que não. O partido está entregue a um "nomenclatura impenetrável" e, fora da "muralha de betão armado" que a rodeia, o bom povo anda na rua "à espera de uma Maria da Fonte qualquer ou de um salvador qualquer, seja ele quem for".
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Mas Manuel Alegre não tenciona abrir uma cisão ou fundar um partido. Por três razões. Porque existe "boa gente" no PS. Porque não considera o PS "pernicioso para a democracia". E porque "as pessoas" têm com o PS "uma relação sentimental, quase religiosa", quase "mística", e, mesmo detestando Sócrates, não querem "romper" com a sua igreja. Por tudo isto, Alegre pensa em coisas mais vagas como "criar um mecanismo de debate" e uma "corrente de opinião" no próprio partido, para "quebrar" a tal "muralha de betão armado", e talvez, como na campanha para a Presidência ou na Câmara de Lisboa, em apadrinhar de longe um "movimento de cidadãos", efémero e confuso, que, sem ele evidentemente perceber, é a versão pacífica e moderna da "Maria da Fonte".
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Sucede que falta uma razão às razões de Manuel Alegre: o vazio ideológico e programático do "alegrismo". Contra a política de Sócrates não propõe mais do que uma simpática e compreensível tristeza e uma agitação interna (ou externa) de que espera, por milagre, nem ele sabe bem o quê. Claro que debita as fórmulas do costume: quer reforçar e não "esvaziar" o Estado Providência, quer "garantir" os "direitos sociais" e quer (calculem) "desbloquear o sistema". Alegre sabe que o mundo mudou e o que ele quer, no fundo, é um indefinido (e indefinível) socialismo para um mundo diferente. Não lhe ocorre por um segundo que o socialismo fazia parte do mundo velho e morreu com ele. Como, de resto, não ocorre a milhões de portugueses. Não foi por acaso que Manuel Alegre se tornou um perigo para Sócrates. (Público)
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Nota do Papa Açordas: Um interessante artigo de opinião de Vasco Pulido Valente, que merece uma leitura mais atenta.

2 comentários:

Tiago R Cardoso disse...

No caso especifico do Sr. Manuel Alegre, não acredito que saindo e criando um partido tivesse os mesmos votos que teve, muito menos acredito que uma renovação partidária possa ser feita por membros do sistema, já viciados e com os tiques de muitos anos dentro dele.

Abrenúncio disse...

Neste PS não há de certeza. Aliás, hoje em dia até tenho dificuldade em perceber o que é o socialismo...
Saudações do Marreta.