quarta-feira, 27 de maio de 2009

O desordenado



Opinião
O desordenado
Mário Crespo
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António Marinho Pinto está para o PS de Sócrates como o estão
Vitalino Canas, Augusto Santos Silva ou Pedro Silva Pereira. É
um indefectível. Tal como Sócrates, Marinho Pinto vê em tudo
o que o prejudica uma urdidura de travestis do trabalho
informativo. Tal como Sócrates, o Bastonário dos Advogados vê
insultos nos factos com que é confrontado. E reage em disparatado
ultraje e descontrolo, indigno de quem tem funções públicas.
Marinho Pinto na TVI foi tão sectário como Vitalino Canas ou
Santos Silva e conseguiu o prodígio de ser mais grosseiro numa
entrevista do que Sócrates foi na RTP e Pedro Silva Pereira na SIC.
É obra. Marinho Pinto não tem atenuantes. Não trabalhou no
Ministério do Ambiente de Sócrates e, que se saiba, não faz parte
do seu núcleo duro. É pois de supor que não esteja vinculado ao
voto de obediência cega que tem levado os mais próximos de Sócrates
à defesa do indefensável, à justificação do injustificável e a encontrar
razão no irracional. Não tendo atenuantes, Marinho Pinto tem
agravantes. O Estado de direito delegou na Ordem dos Advogados
importantes competências reguladoras de um exercício fundamental
para a sociedade. O Bastonário tem que as exercer garantindo
uma série de valores que lhe foram confiados pelos seus pares.
O comportamento público do Bastonário sugere que ele está
a cumprir uma bizarra agenda pessoal com um registo de regularidade
na defesa apaixonada de José Sócrates e do PS. O que provavelmente
provocou em Marinho Pinto o seu lamentável paroxismo esbracejante
em directo foi a dura comparação entre as suas denúncias sobre
crimes de advogados e os denunciantes do Freeport. Se a denúncia
de irregularidades na administração de bens públicos é um dever,
a atoarda não concretizada é indigna. O que o Bastonário da Ordem dos
Advogados disse sobre o envolvimento dos seus pares nos crimes
dos seus constituintes é o equivalente aos desabafos ébrios tipo:
"são todos uns ladrões" ou "carrada de gatunos". Elaborações interessantes
e de bom-tom, se proferidas meio deitado num balcão de mármore entre
torresmos e copos de três. Presumo que a Ordem dos Advogados não
seja isso. Nem sirva de câmara de eco às teorias esotéricas do Bastonário
de que a Casa Pia foi uma Cabala para decapitar o PS ou que o Freeport
é uma urdidura politico-judicial-jornalistica. Se num caso, um asilo do
Estado com crianças abusadas fala por si, no outro, um mega centro
comercial paredes-meias com a Rede Natura, tem uma sonoridade tão
estridente como o grito de flamingos desalojados. A imagem que deu
na TVI foi de um homem vítima de si próprio, dos seus excessos,
do seu voluntarismo, das suas inseguranças e das suas incompetências.
Marinho Pinto tentou mostrar que era o carrasco do mensageiro
que tão más notícias tem trazido a José Sócrates. Fê-lo vociferando
uma caterva de insultos como se tivesse a procuração bastante passada
pelo Primeiro Ministro para desencorajar e punir este jornalismo de
pesquisa e denúncia que tantas e embaraçosas vezes tem andado à frente
do inquérito judicial. E a verdade é que sem o jornalismo da TVI
não havia "caso Freeport" e acabar com Manuela Moura Guedes
não o vai fazer desaparecer. (Jornal de Notícias - Mário Crespo)
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1 comentário:

Manuel da Silva disse...

Oh compadre,
Habitualmente estamos de acordo mas neste caso não o acompanho. Nem a si nem ao Mário Crespo.
Não tenho especial simpatia pelo Marinho Pinto. Também não tenho especial simpatia pela Manuela Moura Guedes. No entanto, e apesar disso, dou inteira razão a Marinho Pinto, que disse a MMG o que ela de facto é - uma fraca jornalista, sem escrúpulos nem respeito, que confunde o dever de informar com a divulgação da sua própria opinião e do seu julgamento (primário).
As acusações que Marinho Pinto fez a MMG, ao contrário do que Mário Crespo corporativamente afirma, não foram dirigidas aos jornalistas da TVI mas apenas e só a MMG.
Por isso, o meu aplauso a Marinho Pinto!
Abraço alentejano