quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Falta Coimbra

O comportamento do actual PS de Coimbra (sobre a co-incineração) rege-se pela subserviência
à liderança do partido

FALTA COIMBRA
Francisco Alegre Duarte

Hoje em dia, o PS de Coimbra passou a ser notícia apenas quando os nomes de alguns dos seus dirigentes locais são referidos por más razões.
No segundo semestre de 2007, Portugal exerceu com êxito a presidência do Conselho da UE. Realizou-se um vasto número de reuniões em Portugal, de Viana do Castelo à Madeira. Mas em Coimbra, nada.
Qual é a influência do PS de Coimbra? A resposta é simples: zero.
Aos olhos do primeiro-ministro, a importância de Coimbra resume-se a uma questão, na qual se empenhou profundamente e que foi decisiva na construção da sua imagem como homem político: a co-incineração.
O comportamento do actual PS de Coimbra sobre esta matéria rege-se pela subserviência à liderança do partido, e pela falta de respeito aos compromissos anteriormente assumidos junto das populações, designadamente ao tempo em que Manuel Alegre era cabeça de lista e António Guterres candidato a primeiro-ministro.
Ora, em política, como na vida em geral, a subserviência - conceito que alguns confundem com lealdade - nunca é premiada e muito menos respeitada.
O que os eleitores valorizam é a coerência, o respeito pela palavra dada e os resultados obtidos na melhoria das condições de vida das populações. São estas as coisas simples que verdadeiramente contam na acção política.
Não admira, por isso, que este PS não tenha a mínima hipótese de ganhar, num futuro próximo, a Câmara de Coimbra. Tal como é igualmente provável que o PS seja fortemente penalizado nas próximas legislativas em Coimbra, cidade que durante tanto tempo foi um bastião socialista.
O PS deve muito a Coimbra e a pessoas que deram um contributo essencial para a construção da sua identidade, do seu imaginário e das suas principais conquistas ao serviço do progresso social do país - figuras como Fernando Vale, Henrique de Barros, António Arnaut (que partilhou a paternidade da criação do Serviço Nacional de Saúde com o dr.Mário Mendes), António Almeida Santos, António Portugal, Fausto Correia e Manuel Alegre.
Matilde Sousa Franco será certamente uma pessoa muito estimável, mas não está à altura da tradição do PS de Coimbra. Quanto às figuras mais destacadas do aparelho local, quem os conhece, o que valem fora do PS?
Coimbra pesa cada vez menos no país. A crise é política, económica e cultural. A Universidade regionalizou-se, deixou de atrair os melhores do país, e cada vez mais jovens de Coimbra saem, para Lisboa e para outras cidades da Beira Litoral, como Aveiro e Leiria.
Esta tendência agravou-se nos últimos anos, e a tal não é alheia a circunstância de o PS local se encontrar em coma.. Falta a este PS de Coimbra uma imagem limpa, de espírito de missão e de serviço público. Falta dimensão política, cultural e cívica. Faltam ideias, projectos e resultados. Falta tudo isto, sobrando apenas a resignação e o conformismo acríticos face à liderança do partido e à sua falta de interesse por Coimbra.
Já todos percebemos que, neste momento, não há partido para além do Governo, mas o caso de Coimbra é particularmente grave. Coimbra faz falta ao país, um outro PS faz falta a Coimbra.
Militante do Partido Socialista (Público)
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Nota do Papa Açordas: Francisco Alegre Duarte, militante do PS, conta aqui o que se passa com o seu partido em Coimbra.
Na realidade, é o que se passa, de um modo geral, em todo o lado. Em Faro, por exemplo, o PS está entregue a algumas pessoas recusadas por outros partidos, cuja actividade política é zero, existindo nos militantes uma descrença total no partido e no Governo.

2 comentários:

quintarantino disse...

Na Distrital de Braga é vira o disco e toca o mesmo ... estamos reduzidos a isto ...

Tiago R Cardoso disse...

Está a tornar-se perfeitamente normal e não só no PS...