terça-feira, 12 de outubro de 2010

Amplas liberdades

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Manuel António Pina
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Que alguém, por subscrever um manifesto onde reclama o
respeito do seu governo pelos valores da "liberdade, igualdade e
direitos humanos" e defende um sistema político assente na
"democracia, [n]a república e [n]o constitucionalismo", tenha
sido condenado a 11 anos de cadeia parece algo absolutamente
incompreensível.
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Infelizmente, na China e em mais países do Mundo onde não
existe liberdade de expressão, defender valores democráticos é,
como foi em Portugal durante 48 anos, "subversivo". E, infelizmente,
muitos desses países são "países amigos" do PCP - um partido
cujos militantes penaram longamente, quando não morreram,
nas cadeias de Salazar por idênticos crimes de "subversão".
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Sou dos que estranham que a generosa luta de Liu Xiaobo pela
democracia na China, semelhante à de muitos outros militantes
dos direitos humanos em países "amigos" (e "inimigos" também)
do PCP, tenha merecido o Nobel da Paz, tanto mais que - ao
contrário do que acontece, por exemplo, com outro "país amigo"
do PCP, o Irão - ninguém poderá acusar o regime chinês de constituir
uma ameaça para a paz na região ou no Mundo.
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Mas mais estranho ainda (na verdade, é só estranheza retórica) é
que o PCP, que entre nós passa por arauto das "amplas liberdades",
tenha conseguido desastradamente condenar o prémio de Liu Xiaobo
sem fazer qualquer referência ao facto de ele se encontrar preso
nem às razões da sua prisão. (Jornal de Notícias)
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