sábado, 26 de abril de 2008

QUEM MANDA?


«Já se fala em Manuela Ferreira Leite como uma "lebre" de Rui Rio. Há uma certa lógica nesta metáfora das corridas de fundo. Manuela Ferreira Leite tem 68 anos e terá 69 (ou talvez perto de 70; não sei em que mês nasceu) em Outubro de 2009. Para chegar a primeira-ministra não precisa só que Sócrates perca a maioria absoluta, precisa que Sócrates perca a maioria simples e, mais do que isso, que o PSD ou a direita, no seu conjunto, ganhem a maioria absoluta: uma possibilidade longínqua. Se governar, Manuela Ferreira Leite não governará antes dos 73-74 anos, quase tão velha como Salazar - o que, evidentemente, não é de prever. Manuela Ferreira Leite não serve para o futuro. Serve agora para dar um ar decente ao PSD, depois da irresponsável, errática e, às vezes, repelente direcção de Menezes; para fazer esquecer meses de balbúrdia e o "caso Câncio".
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Mas serve também, em teoria, para escolher um grupo parlamentar com algum equilíbrio e competência e reduzir a facção populista do partido. Infelizmente, a facção populista do partido percebe muito bem o que se prepara e está decidida a não se deixar varrer de cena, despedida e mal paga. Até sem Menezes (se ele de facto saiu), fica a organização que o elegeu e a rede de interesses que o sustentou. Por enquanto, toda essa gente anda ainda à procura de um cabecilha (não digo, por vergonha, uma cabeça). Consta que Pedro Santana Lopes, como sempre, não recusará esta nova aventura. De qualquer maneira, Manuela Ferreira Leite não vai ser recebida por um PSD arrependido e cooperante. A balbúrdia vai continuar e até provavelmente piorar. A vida de milhares de "bases" depende de que nada ou quase nada mude.
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O que divide o PSD não é o programa ou a ideologia, em sentido estrito, mesmo porque o programa e a ideologia contam pouco num movimento populista. O que divide o PSD é uma questão política, a questão nua e crua do poder: quem manda ou não manda no partido. Mandam os "notáveis", como Ferreira Leite, que no seu tempo Cavaco recrutou, e a "classe média respeitável" da universidade e do "sector privado"? Ou manda o pessoal das câmaras, das distritais, das concelhias, das secções? Manda Arnaut ou Ribau? Morais Sarmento ou Marco António Costa? A resposta determina a divisão do bolo. A guerra é pelo bolo - pelo subsídio e pelo negócio, por lugares no Parlamento, na "Europa", no funcionalismo - e não desaparece pondo à frente do PSD um ícone de uma era de ouro remota e acabada.» [Público assinantes]
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