domingo, 20 de abril de 2008

PORTUGAL AINDA NÃO MUDOU SUBSTANCIALMENTE, REPITO!


O Jumento denuncia, com mágoa e desilusão, a continuidade de uma cultura de impunidade na Administração Pública à qual os contribuintes não exigem na sua devida medida, uma qualidade de prestação de serviço correspondente ao nível de impostos que vêem passivamente ser-lhes sugados, inexplicavelmente, todos os dias.
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Não me espanta em nada, porque tem toda a razão e, para além da desilusão perante a situação, não estranharei ver o qualquer momento o desespero pela situação, que teima em não mudar ao longo das últimas 3 décadas seguintes à reposição da democracia enquanto modelo político propício à mudança cultural e social com efeitos nas instituições e na organização social, incluindo o trabalho em geral e o emprego estável e para toda a vida (no Estado e nas empresas em particular).
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A denúncia de que pouco ou nada mudámos em Portugal nas últimas décadas, apesar de nos termos modernizado exteriormente (uso e consumo de telemóveis, automóveis de luxo, férias no estrangeiro, segunda habitação, litoralização e urbanização do povoamento, aquisição de títulos de ensino superior) já por mim próprio foi aqui abordada, neste espaço, à luz das explicações oferecidas pela psicologia social, nomeadamente no que toca à manutenção dos valores nucleares na sociedade portuguesa, apenas tendo o superficial e material mudado.
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Modernos no comportamento mas tradicionais no pensamento, o que denuncia dede logo a inconsistência crescente entre a falta de atitude expressa em comportamento consentâneo, ou seja, a diminuição da solidez do quadro de valores formativo das gerações mais jovens, mas ainda assim algo influenciadas pelos pais, com valores mais arraigados e, tradicionais.
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Entre esses valores, encontramos o apreço pela pertença a um grupo, uma forma colectivista e não individualista de organização social e da nossa vida quotidiana, propícia a que a desresponsabilização e a a desculpabilização pela incompetência e pelos erros na Administração Pública (ainda que prejudiquem impunemente contribuintes) aconteça com alguma frequência em Portugal, aplicando-se tanto aos funcionários, protegidos por algum padrinho, como pelas chefias, pertencentes a um grupo (político, religioso, financeiro, empresarial,...).
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A regra seguida no seio de muitos grupos e instituições sociais, tolerada pela sociedade que assim educou as nossas gerações (basta ver os manuais escolares do ensino básico antes de 1974 e os valores que ali eram transmitidos e que ainda hoje denunciamos involuntariamente aos nossos filhos através dos nossos comportamentos de "não exigir demasiado dos outros, desculpar, deixar andar para não prejudicar ou estagar a vidinha a alguém que precisa e tem família"), é a da escolha dos colaboradores pelo princípio da lealdade e da submissão cega e sem contestação às ordens de quem escolhe (o princípio seguido pela cadeia hierárquica de que, quem manda, manda bem e de não tomar iniciativa profissional porque as chefias é que devem dizer o quê e como fazer), mais do que pelo valor da competência profissional (esta, se não existir, não vem mal ao mundo e quase sempre dá problemas a quem escolhe porque pode não se aguentar com a contestação abaixo e até mesmo perder o lugar para alguém abaixo dele).
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Em troca, oferece-se a protecção, como recompensa da lealdade. O resultado é por vezes a impunidade em cadeia, em muitas situaçlões a palhaçada da avaliação sem missão da organização, sem objectivos nem critérios (objectivos) definidos, onde contam mais as relações pessoais do que a justiça, prejudicando muitos que, cada vez mais tendem a seguir a regra geral: bajular o chefe, dar-lhe conta do que está a fazer a cada 5 minutos e dizer-lhe que sim a todas as barbaridades de decisões que prejudicam o desenvolvimento do país e o futuro dos nossos filhos.
Os resultados estão à vista e, não há fundos comunitários que surtam efeitos de mudança do paradigma de desenvolvimento enquanto esta matriz cultural perdurar, o que ainda se arrastará por muito mais tempo. O dinheiro esfuma-se aqui enexplicavelmente como não acontece noutros Estados-Membros (do Norte e do Leste europeu) que aproveitam os mesmos em benefício da sociedade e não dos grupos (de interesse) da mesma.
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Uma boa questão para os professores e/ou pais reflectirem, pela responsabilidade que nos cabe neste resultado. Basta ver os relatórios da OCDE sobre os investimentos em educação que, apesar de serem dos mais elevados per capita em Portugal, têm os menores efeitos e impactos na economia. Acrescento esta nota recente do 31 da Armada. ( In Largo das Alterações)

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