quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Pedro Rosa Mendes: "Duvido que quem vive dobrado em democracia se endireite em tempos difíceis"

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O escritor e jornalista Pedro Rosa Mendes acabou a sua colaboração com a Antena 1, numa crónica emitida nesta quarta-feira de manhã, com declarado repúdio ao que diz ser “uma sociedade asfixiada por valores do silêncio, da cobardia, do bajulamento”.

O fim do espaço de opinião "Este Tempo", naquela emissora da RDP, motivou acusações de censura de dois dos seus colaboradores: o próprio Pedro Rosa Mendes, que disse ao PÚBLICO ter sido informado que “a administração da casa não tinha gostado da última crónica sobre a RTP e Angola” – na qual o jornalista critica o programa Reencontro –, e de Raquel Freire, que denunciou pressões. O director-geral da RTP, Luís Marinho, assegura que a decisão de acabar com o programa “já estava tomada há algum tempo”. Quatro dos cinco cronistas disseram ao PÚBLICO que só na segunda-feira foram informados de que o programa sairía do ar (link, só para assinantes).

Na terça-feira, a realizadora Raquel Freire usou o tempo de antena naquele espaço para falar sobre liberdade. Nesta quarta, Rosa Mendes dedica a primeira parte da sua crónica, de quase seis minutos (disponível aqui), ao livro de memórias recentemente editado em França do cineasta cambojano Rithy Panh, L'élimination [A eliminação], “documento histórico de grande intensidade”, para na segunda parte traçar um paralelo entre o regime dos Kmer Vermelhos e o Portugal dos nossos dias.

“Rithy Panh conta-me o Camboja dos anos 1970 e o seu livro reenvia-me, uma e outra página, com uma força que me deixa sem pulso, para o Portugal do presente. Para um país, precisamente, onde quatro décadas de democracia produziram, afinal, uma sociedade asfixiada por valores do silêncio, da cobardia, do bajulamento e dessa gangrena da nossa pátria que é a inveja social”, diz.

Continua Pedro Rosa Mendes: “Por junto, uma cultura mesquinha que quase sempre não há ninguém que diga aquilo que todos sabem, mas que todos devem calar. Uma terra onde, finalmente, se instalou o medo e uma noção puramente alimentar da dignidade individual. Traduza-se: ‘está caladinho, para guardares o trabalhinho’.”
Notas do Papa Açordas: Os tentáculos do polvo angolano já chegaram a Portugal: eliminação de tudo o que possa prejudicar os seus interesses... e, se possível, repôr a censura à Imprensa em Portugal... como comprovam os mais recentes acontecimentos...

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