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Manuel António Pina
Embora tenham suscitado justificada indignação geral, as
queixas de Cavaco Silva sobre a(s) sua(s) reformas (mais de
10 000 euros mensais, que "não vão chegar para pagar as
minhas despesas") não têm relevância senão como sintoma.
De facto, tais queixas foram feitas pouco tempo depois de o
mesmo Cavaco Silva ter, sem pestanejar, promulgado um
Orçamento que confisca os subsídios de férias e Natal a
milhares de reformados com pensões de poucas centenas de
euros. E só 48 horas após a assinatura de um Acordo de
Concertação Social que subverte totalmente os direitos,
liberdades e garantias dos trabalhadores assegurados na
Constituição, facilitando e embaratecendo os despedimentos
e deixando-os ao arbítrio patronal, e reduzindo indemnizações,
subsídios, férias, feriados e tempos de descanso, acordo em
que Cavaco vê um "sinal de confiança" para todos os portugueses.
Parece que Cavaco irá receber os subsídios de férias e Natal a
que tem direito como reformado do Banco de Portugal. Descontou
para isso e tem todo o direito a recebê-los. O problema é que
também os restantes portugueses, os reformados e os trabalhadores
da Administração Pública no activo, têm idêntico direito e Cavaco
subscreveu sem reservas, sequer de constitucionalidade, a lei que
os espolia de tal direito.
O "provedor do povo" queixou-se ao povo de que 10 000 euros
por mês não lhe chegam. Será o povo, por sua vez, o provedor do
seu provedor? (Jornal de Notícias)
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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
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