quinta-feira, 1 de março de 2012

Dias de servidão

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Manuel António Pina

A tese do aluno bem comportado, o que papagueia a "sebenta" do
professor e vai até mais longe do que ele exige, esteve em voga nos
governos de Cavaco e deu no que hoje se sabe.

O Governo PSD/CDS adoptou idêntica estratégia de submissão
acrítica. Foi humilhante ver os olhos luzentes de alegria com que
Vítor Gaspar deu conta ao país que os capatazes dos mercados que,
por intermédio da actual maioria, nos governam, lhe deram nota
positiva (um 10 interrogado mas, de qualquer maneira, uma nota
positiva). E, quando Olli Rehn, depois de umas carícias ("Lindos
meninos..."), anunciou ainda mais "desafios" e "sacrifícios", Gaspar
há-de decerto ter murmurado: "Venham eles!".

Diogo Feio, eurodeputado do CDS, é um bom intérprete dessa
estratégia. Ao "Público" diz que "Portugal é bem visto por ter uma
maioria de governo sólida" e uma situação social "pacificada". O
único problema, parece, é haver (ainda) direito à greve: "Nós somos
observados ao mais pequeno pormenor e cada greve que é feita
mancha a imagem de Portugal".

Não mancham "a imagem de Portugal" o empobrecimento
generalizado que em tempos o primeiro-ministro anunciou como
objectivo político do Governo, o desastre social, os afrontosos
números do desemprego, mas o facto de os trabalhadores serem
mal comportados e lutarem pelos seus direitos. A sra Merkel deve
ter gostado de ouvir, afinal sempre há portugueses "mais alemães
do que os alemães".(Jornal de Notícias)
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