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Manuel António Pina
"Os próximos tempos podem ser insuportáveis para alguns dos
nossos concidadãos, em especial os reformados e os
desempregados", avisou ontem Cavaco Silva em Carregal do Sal.
O presidente apelou ao "espírito solidário dos portugueses" e a
um "diálogo frutuoso e construtivo" na AR de modo evitar "custos
insuportáveis" para uma parte da população e a "preservar a
coesão social e criar um ambiente social menos negativo" no país.
Ninguém contestará as palavras do presidente da República. Mas,
para serem ouvidas por aqueles a quem se dirige e assobiam para
o lado, não deveriam ter sido ditas e repetidas antes no Palácio de
Belém ao primeiro-ministro? Acredito que Cavaco Silva já o tenha
feito e que Passos Coelho conheça a sua preocupação com a "coesão
social" e o "ambiente social negativo" que o OE gerará.
Provavelmente até já a conheceria antes da elaboração do OE
para 2012. Mas, se a ignorou até agora, porque haverá ela de lhe
importar vinda de Carregal do Sal?
Já o apelo presidencial ao "espírito solidário dos portugueses",
supõe-se que dos mais ricos, ficaria talvez melhor em algum dos
fóruns empresariais a que Cavaco Silva regularmente vai. Talvez
aí o mais rico dos portugueses, o "trabalhador" Américo Amorim,
percebesse o que significa "solidariedade" (para os católicos, a
virtude cardial da "liberalitas") já que, nos seus domingos de missa,
nunca terá ouvido falar do pecado mortal da avareza.
(Jornal de Notícias)
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segunda-feira, 7 de novembro de 2011
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