sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Cartas Viciadas

-
Manuel António Pina
-
Na deplorável partida de póker em que se tornou a luta política,
a aposta de Passos Coelho no extremar de posições em relação
ao Orçamento seguida da ameaça de Sócrates de se demitir no
caso de ele não ser aprovado, revelou o óbvio: que Coelho fizera
"bluff" e não iria pagar para ver. Os inúmeros "bluffs" de Sócrates
anunciando, dia sim, dia não, o "fim da crise" (ainda em Maio
Portugal era "o primeiro país a sair da recessão") não têm sido
menos desastrados. Os aumentos da Função Pública há um ano,
em véspera de eleições, lembram Beau Geste no deserto, cercado
e acossado pela sede, lavando desafiadoramente as botas com o
último cantil de água. A crise não é, contudo, tão impressionável
como os "tuaregs", e Sócrates exige agora a devolução, com juros,
desses aumentos. Ao mesmo tempo opta pela que, em Março, era
a solução "mais fácil", o do aumento dos impostos, e por receitas
extraordinárias como as que criticou a Ferreira Leite. Precisa de
4,5 mil milhões para levar o défice de 7,3 a 4,6 %. Tanto quanto
enterrou no BPN e BPP. Como confiar o nosso dinheiro (e o nosso
futuro) a jogadores destes? (Jornal de Notícias)
-

Sem comentários: