terça-feira, 29 de setembro de 2009

Cinco táxis cheiinhos de queijo limiano

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João Miguel Tavares
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Com a ilustre excepção de Manuela Ferreira Leite, todos os restantes líderes partidários cumpriram o velho ritual de aparecer a cantar vitória na noite das legislativas. Mas só um tinha razões para estar genuinamente satisfeito: Paulo Portas. Tivesse ele um cartãozinho laranja em vez de azul, e esta semana poderia estar a pendurar o poster da Sharon Stone nas paredes de São Bento.
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José Sócrates ganhou as eleições, com certeza, mas conseguiu ter um resultado pior do que o de Ferro Rodrigues contra Durão Barroso em 2002 e é o único primeiro-ministro reeleito que desce a sua votação do primeiro para o segundo mandato (Cavaco e Guterres subiram sempre). Se tivesse chegado perto dos 40% que lhe davam ao princípio da noite, ainda haveria alguma surpresa pela positiva. Ficando na casa dos 36% (abaixo dos valores de todas as sondagens de sexta-feira), pouco há para festejar. A consequência deste resultado, que nem é carne nem peixe, é que Sócrates vai ter que demonstrar que sabe governar em minoria (maioria absoluta com outro partido, só se ele for de direita), o que, tendo em conta o seu perfil psicológico e a sua acção nos últimos quatro anos, é como pedir ao Conde Drácula para se dedicar aos sumos naturais.
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Se há um fiel da balança, ele é mesmo Portas: conseguiu os tais 10% que pedira, sem sucesso, em 2005, e os seus 21 deputados (mais nove do que há quatro anos) permitem ao CDS negociar acordos pontuais com Sócrates. São cinco táxis cheiinhos de queijos limianos. Assumindo-se como o terceiro partido mais votado, o CDS - que as sondagens para as europeias, recorde-se, chegaram a dar como desaparecido em combate - estragou a festa ao Bloco de Esquerda, que sobe muito e duplica o número de deputados, mas que fica muito longe dos números das sondagens e sem poder negocial no Parlamento. O sorriso de Francisco Louçã só pode ser amarelo, tal como o de Jerónimo de Sousa, que também subiu em votos e em deputados mas que é relegado para quinta força partidária.
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E Manuela? Manuela teve o que merecia: um resultado à altura da sua campanha eleitoral. Quem tanto apelou à verdade e colocou António Preto nas listas não merecia outra coisa. Quem tanto falou em asfixia democrática e foi elogiar a democracia na Madeira não merecia outra coisa. Quem achou que não fazer (TGV, auto-estradas, aeroporto) era suficiente como programa eleitoral não merecia outra coisa. As condições políticas para continuar à frente do PSD são nulas, com um resultado ao nível do de Pedro Santana Lopes em 2005 (mais 0,4%). Ora, se o partido do Governo cai 8,5% e a líder da oposição apenas recebe 0,4% desse descontentamento, é caso para perguntar: o que é que a senhora ali está a fazer? (Diário de Notícias)
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