sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Uma democracia doente

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Manuel António Pina

Que, após anos de alternância entre o PS e o PSD (ou PSD/ CDS), sem
que a alternância governativa tenha significado alternância de políticas
económicas, a democracia portuguesa foi conduzida a um beco
aparentemente sem saída, já se sabia; que a tutela absoluta da "troika"
sobre essas políticas e sobre a acção dos partidos do chamado "arco
da governação" afunilou ainda mais qualquer hipótese de saída de tal
situação no actual quadro político, também já se sabia; não se sabia
era que os desesperançados eleitores portugueses tivessem plena
consciência de tudo isso, embora fosse possível suspeitá-lo pelo
crescimento galopante dos números da abstenção (bastará dizer que,
tendo em conta a abstenção e os votos brancos e nulos, o PSD alcançou
o Governo representando pouco mais de 20% dos portugueses).

A sondagem agora realizada pela Universidade Católica para a RTP
comprova o pior: quase dois terços (62%) dos eleitores consideram
mau ou muito mau o desempenho do Governo em funções, mas três
quartos (73%), olhando em volta para as alternativas viáveis - que é
como quem diz para o PS - não vê que valha a pena mudar de Governo
por um outro que, com mais ou menos leis do aborto ou do casamento
homossexual, faça exactamente a mesma coisa.

Quando os eleitores concluem que tanto dá votar como não votar por
que o resultado será o mesmo, a democracia está gravemente doente e
madura para qualquer aventura populista.(Jornal de Notícias)
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