-
Manuel António Pina
Quando soube que Margarida Fonseca Santos, autora da peça "A
filha rebelde" (adaptação do livro homónimo de José Pedro
Castanheira e Valdemar Cruz) e dois ex-directores do Teatro
Nacional D. Maria II iriam hoje a julgamento em Lisboa
acusados de difamação e ofensa à memória do major Silva Pais,
responsável máximo da PIDE de 1962 a 1974, admiti que na
referida peça tivessem, de facto, sido ditas coisas vergonhosas
sobre o homem, sei lá, que ele, por exemplo, seria um entusiasta
da Declaração Universal dos Direitos do Homem ou que a PIDE,
enquanto foi seu director, nunca perseguiu, torturou ou matou
quem quer que fosse.
Afinal descobri por uma notícia da Lusa que os sobrinhos de
Silva Pais que propuseram a acção se queixam de que, na peça
em causa, haverá três falas onde se "insinua" o envolvimento do
seu digníssimo tio no assassinato, em 1965, do general
Humberto Delgado às mãos da PIDE.
Argumentam os sobrinhos que Silva Pais, acusado de co-autoria
moral do crime, nunca chegou a ser condenado (nem absolvido)
já que morreu uns meses antes da sentença do tribunal que
julgou o caso.
É um excelente argumento. Ressalvando as devidas distâncias,
que nele meditem os que por aí dizem coisas feias de, por
exemplo, Átila, o Huno, Hitler, bn Laden ou o guarda-redes
Roberto do Benfica, que também nunca foram condenados (que
se saiba, nem por uma simples multa de estacionamento) em
qualquer tribunal.(Jornal de Notícias)
-
quarta-feira, 4 de maio de 2011
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário