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Manuel António Pina
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Há hoje em Portugal, até onde é possível fazer contas, mais de
300 mil pessoas que passam fome e dependem, para sobreviver,
da ajuda de instituições como o Banco Alimentar Contra a Fome
e outras. "Recebemos todos os dias pedidos de ajuda de pessoas
sem dinheiro para comer, para medicamentos, renda, água ou
uma botija de gás para cozinhar", diz a AMI ao DN. "Já não são só
os sem-abrigo a procurar as carrinhas de distribuição de comida",
acrescenta Heloísa Teixeira, da Legião da Boa Vontade. E, depois,
há ainda a chamada "pobreza envergonhada", que para já não
procura ajuda porque a vai conseguindo, designadamente a alimentar,
junto de amigos, vizinhos ou familiares, e da qual não se conhece a
verdadeira dimensão.
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Cavaco Silva tem pois todos os motivos para, como disse, se
sentir envergonhado com a situação de fome que muitos
portugueses hoje vivem.
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Mas deveria sentir-se também envergonhado, e deveria dizê-lo,
por, simultaneamente, outros portugueses viverem na mais
escandalosa abundância (como sucedeu nos tempos das vacas
gordas dos fundos comunitários em que foi primeiro-ministro e
em que nasceu o Banco Alimentar Contra a Fome), e banca e
grandes empresas todos os dias anunciarem lucros da ordem
dos milhões que, na maior parte dos casos, irão parar a "offshores",
enquanto avidamente disputam a pobres e desempregados as cada
vez mais escassas verbas com que o Estado ainda os vai apoiando.
(Jornal de Notícias)
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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
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