sábado, 1 de março de 2008

Universidades estão de tanga...

Estrangulamento financeiro pode chegar a mais universidades, alerta reitor da Clássica
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Se actualmente quatro universidades estão a sofrer devido ao "estrangulamento financeiro" dos últimos tempos, até ao final do ano poderão ser "sete ou oito" e no próximo ano serão "todas". O prognóstico é de António Nóvoa, reitor da Universidade de Lisboa. "As instituições foram levadas até ao limite das suas possibilidades", acusa.
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O debate promovido pela Federação Portuguesa das Associações e Sociedades Científicas e pelo Centro Nacional de Cultura, em LIsboa, foi o palco destas declarações. Para António Nóvoa o tema do financiamento "incomoda", mas justifica a "dificuldade de governar as instituições e de promover projectos" como o da aplicação do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES).
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Este diploma que prevê grandes alterações no modo como as universidades e politécnicos se organizam e são geridos - e que abre a porta à criação de fundações públicas de direito privado - foi o tema que dominou o discurso dos outros intervenientes: Helena Nazaré, reitora da Universidade de Aveiro; Alberto Amaral, director do Centro de Investigação sobre Políticas do Ensino Superior, da Universidade do Porto; e Medeiros Ferreira, professor da Universidade Nova de Lisboa.António Nóvoa insurge-se com o facto das universidades dos Açores, Algarve, Évora e Trás-os-Montes e Alto Douro terem controladores financeiros do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, devido às dificuldades que atravessam. "No dia em que entrar um controlador por uma porta, eu saio pela outra", reage o reitor de Lisboa, que lamenta o financiamento das 14 universidades públicas ser inferior ao da Universidade de Utrecht, na Holanda. As portuguesas recebem 650 milhões de euros, ao passo que a holandesa com uma dimensão semelhante à da Universidade do Porto, a maior do país, recebe 700 milhões.
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A Clássica está a fazer um estudo, com base no ranking de Shanghai das universidades mais prestigiadas e, as primeiras conclusões é que "a reputação coincide com o financiamento", ou seja, quanto mais prestigiadas, mais dinheiro recebem.
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"A retórica universitária, que se baseava na qualidade científica e académica foi substituída pela eficiência e prestação de contas", critica Alberto Amaral, sobre o novo modelo de funcionamento das instituições, promovido pelo RJIES. Amaral lembra que "há a ideia" de que o sector privado é melhor do que o público. Nóvoa conta que são os elementos externos à Clássica que, durante as reuniões da assembleia estatutária, são os primeiros a chamar a atenção para que a universidade não "replique o modelo" privado.Medeiros Ferreira teme que o "impulso reformador do exterior [do Governo], que é um impulso político e não institucional" leve à concentração das instituições. O socialista e professor da Nova defende que não pode haver hierarquia "acima dos professores e dos seus saberes".
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Não se pode esperar que as instituições passem de "torres de marfim" a "poços de petróleo", aponta Helena Nazaré. A metáfora serve para explicar que as instituições são consideradas "relevantes na nova economia", mas que não podem ser responsabilizadas pelo seu desenvolvimento.
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A reitora considera que, por exemplo, a pressão da sociedade e do Governo para que as formações académicas garantam emprego imediato, pode por em risco o desenvolvimento social e cultural do país. Um problema que se coloca também à investigação que pode ser "desenhada à medida do financiamento", deixando "à míngua" áreas como Filosofia, Linguística ou História.
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João Senteiro, presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia, responsável pelo financiamento da investigação científica, contesta e diz que toda a investigação depois da avaliada a qualidade por painéis internacionais é financiada e que não há áreas privilegiadas.
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O responsável governamental sublinha ainda que as universidades portuguesas não são reconhecidas internacionalmente, mas que o mesmo não acontece com a investigação que se faz. Helena Nazaré responde que não se deve dissociar a investigação da universidade e que a instituição que dirige é disso um exemplo. (Público)
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Nota do Papa Açordas: É demasiado triste o que este (des)governo está a fazer: a criar condições para a fusão de algumas universidades públicas e, ao mesmo tempo, acabar com algumas delas... Era bom que o Presidente da República se debruçasse um pouco sobre este assunto...

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