sexta-feira, 28 de março de 2008

A DEMOCRACIA BOICOTADA

As respostas demasiado suaves à crise do Tibete são um mau indício de algo que está a mudar no mundo. 2008 já não é 1989. Passaram quase duas décadas desde o ano mágico dos protestos de Tiananmen e da queda do muro de Berlim e da hipótese da democracia universal que abriram.Essa paixão arrefeceu e os silêncios insistentes em torno dos protestos dos últimos dias mostram-no. Sim, Sarkozy falou em boicote, depois amaciou o discurso, o suficiente para ouvir uma reprimenda pesada de Pequim - o Tibete, permitiram-se dizer, é como os subúrbios de Paris. Disse pouco, mas foi o único. E não é só o realismo puro e duro que parece estar a tolher as democracias. Claro, há o peso económico da China, certo há o peso de Pequim no delicado teatro das relações mundiais e tudo isso, evidentemente, conta. Mas há pelo menos uma coisa pior do que o realismo: a resignação, ou a constatação da incapacidade das democracias em tornar real o mítico fim liberal da história que Francis Fukuyama inventou como alternativa ao mítico fim marxista da história. Mas Marx e Fukuyama beberam as suas ilusões aparentemente antinómicas na mesma fonte: a crença falaciosa na inevitabilidade do progresso. Sim, a história move-se, mas nem tudo o que se movimenta tem um destino... (Público)

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