quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Fracasso das previsões da inflação

Função pública deve perder poder de compra pelo nono ano
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A inflação do ano passado fixou-se nos 2,5 por cento, um valor superior às previsões do Governo para esse ano. Os trabalhadores do Estado deverão este ano perder poder de compra pelo nono ano consecutivo. Basta para isso que, tal como acontece desde há pelo menos dez anos, o Governo falhe as suas metas de inflação.
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Os dados ontem divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) - que dão conta de uma inflação de 2,5 por cento em 2007 contra os 2,1 previstos - confirmam o que começa a ser uma tradição: o fracasso das previsões de inflação inscritas no Orçamento do Estado (OE).
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Caso se repita este ano a situação, os trabalhadores vão, como vem acontecendo desde 2000, perder poder de compra. Isto porque os aumentos de 2,1 por cento aplicados à função pública são iguais à inflação prevista no OE-2008, mas a estimativa do Banco de Portugal é de que ela chegue a 2,4. O próprio Governo admite no Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) que a inflação atinja os 3 por cento se o preço do petróleo rondar os cem dólares em termos médios este ano.
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Em 2007, os funcionários públicos viram os ordenados subir 1,5 por cento, mas a inflação foi de 2,5. E, no ano anterior, os 1,4 por cento de aumentos foram comidos por uma inflação real que chegou aos 3,1 por cento. Contas feitas, só nos dois primeiros, dos dez anos considerados, os aumentos no Estado - usados também como referência para o sector privado - foram superiores à inflação. Em 1998, os salários subiram 2,8 por cento e a inflação 2,7 por cento; e, em 1999, foram aumentados 3 por cento contra uma subida média anual de preços de 2,3 por cento. Mas, desde 2000, o crescimento dos salários é sistematicamente inferior ao dos preços no consumidor.
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A série negra de previsões de inflação falhadas vem, pelo menos, desde 1998 (os dados consultados pelo PÚBLICO dizem respeito apenas à última década), quando a previsão foi de 2,0 por cento e a inflação real chegou aos 2,7. Nesse período, estiveram em funções executivas António Guterres, Durão Barroso, Santana Lopes e José Sócrates. O ano em que a diferença entre as previsões do OE e a realidade foram maiores foi 2001, quando os 2,8 por cento estimados vieram a trepar para 4,3 por cento, uma diferença de 1,5 pontos percentuais.
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Os 2,5 por cento de variação média anual de preços no consumidor registados no ano passado são superiores quer aos 2,1 por cento previstos no OE 2007, quer aos 2,3 por cento calculados pelo Governo quando, em Outubro passado, apresentou o OE 2008. Segundo a agência Lusa, os maiores aumentos de preços em 2007 ocorreram nos serviços de saúde (7,4 por cento), bebidas alcoólicas e tabaco (4,9 por cento) e educação (4,7 por cento). Ao contrário, nos preços das comunicações houve uma quebra de 1,8 por cento.
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"Fortes críticas das centrais sindicais
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As centrais sindicais tiveram as reacções mais críticas não só ao anúncio de que a inflação foi de 2,5 por cento em 2007 como à confirmação do fracasso das previsões.
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"A previsão do Governo tem sido, nos últimos anos, um elemento de forte perturbação da política económica. Mas tem sido sobretudo um elemento de desestabilização da política de rendimentos e da negociação colectiva, com impactos negativos sobre o crescimento real dos salários, pensões e demais rendimentos", reagiu a UGT.
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Na mesma linha se pronunciou o dirigente da CGTP Amável Alves, que defendeu "mais verdade" nas estimativas. "A negociação colectiva, no sector privado, e as negociações na função pública debruçaram-se sobre uma previsão errada", disse à Lusa. O líder do PSD, Luis Filipe Menezes, comentou a taxa de inflação dizendo que os portugueses levam "nove anos de perda de poder compra" e "11 anos de divergência com a União Europeia" e destacou a subida do desemprego. Mota Soares, do CDS, condenou o executivo por "mais uma vez falhar" as previsões. O mesmo fizeram Agostinho Lopes, do PCP, que acusou o Governo de "subestimar" o nível esperado de preços, e Francisco Louçã, do BE.
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Entre as primeiras reacções recolhidas pela Lusa ao anúncio de uma inflação de 2,5 por cento em 2007, só o presidente da Confederação do Comércio e Serviços, José António Silva, considerou "meritório ter-se conseguido controlar" o nível dos preços, "num cenário difícil, sobretudo no final do ano".(Público)
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Nota do Papa Açordas: Estes falhados devem ter sido todos corridos com a avaliação de desempenho de excelente...

4 comentários:

SILÊNCIO CULPADO disse...

Não sei se realmente falham por incompetência ou se falham de propósito para que os aumentos se situem abaixo da inflação. Inclino-me para a última hipótese. Infelizmente já não acredito na seriedade dos políticos nem no rigor das nossas instituições.
Um abraço

quintarantino disse...

E assim vamos indo... para a penúria!

Tiago R Cardoso disse...

Gostei particularmente de ainda se terem gabado que acertaram nos outros item, este deve ser um sem importância que não afecta ninguém.
Enfim...

A. João Soares disse...

Caro Compadre,
Em Do Miradouro coloquei um post sobre este tema. Depois de reflectir sobre o assunto concluí que os erros sistemáticos nas previsões da inflação não são casuais, porque se o fossem seriam umas vezes para mais outras vezes para menos.
É propositado para gastar menos com os funcionários, a fim de sobrar muito mais para os governantes e seus «boys». Estáo-se nas tintas para as pessoas que cada ano perdem poder de compra. E não é só este governo, são todos. É a mentalidade doentia dos governantes portugueses. Não merecem o nosso voto. O papel do voto deve ser dobrado respeitosamente e não se sujar com qualquer traço de esferográfica e ser entregue com a brancura virginal.
Abraço