domingo, 11 de maio de 2008

Inflação nos bens essenciais já está a custar mais de 800 euros por ano aos portugueses

Governo sem alarme
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Alimentos, casa e combustíveis estão a apertar os orçamentos das famílias mais pobres. Hoje, a subida dos preços devora já dois salários mínimos por ano e a situação tende a agravar-se.
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Mais 65 euros ao mês ou cerca de 800 euros ao ano, quase dois salários mínimos, é quanto uma família de baixos rendimentos em Portugal que se endividou para comprar casa e utiliza o automóvel para se deslocar para o emprego está neste momento a gastar na alimentação, combustíveis e casa, quando comparado com o mesmo período do ano anterior. E o agravamento da factura, se os cenários traçados por entidades internacionais se concretizarem, pode chegar no final de 2008 aos 100 euros mensais.
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A alta de preços nas matérias-primas e o aperto no mercado de crédito afecta a generalidade da população, mas os agregados familiares com menores rendimentos acabam por ser os mais prejudicados, já que são aqueles que, proporcionalmente, gastam mais dinheiro na alimentação e na prestação da casa.
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A situação, actualmente, torna-se mais grave porque, ao mesmo tempo, os três tipos de despesas mais importantes - alimentação, habitação e transporte - se estão a agravar.No que diz respeito à alimentação, a subida generalizada de preços é, desde já, a mais forte dos últimos 35 anos. E os portugueses já a sentiram nos seus orçamentos nos primeiros meses deste ano.
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De acordo com os dados da empresa de estudos de mercado TNS Euroteste junto de 2500 agregados familiares, a despesa média com alimentação passou de 353,7 no primeiro trimestre de 2007 para 375,7 no mesmo período deste ano: um acréscimo de 22 euros ou 6,2 por cento. No total, o aumento da despesa anual situar-se-ia a este ritmo próximo dos 88 euros. No entanto, a mesma empresa estima, levando em linha de conta a possibilidade de um acréscimo dos preços dos alimentos de 40 por cento avançada recentemente pela Comissão Europeia, que o agravamento das despesas com a alimentação possa chegar aos 620 euros anuais por família.
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Um cenário negro que colocaria muitos portugueses em sérias dificuldades.A redução do consumo de alguns bens e a crescente preferência por marcas de distribuição são as respostas dadas por algumas famílias para este problema. Mas o que é certo é que, consumindo ou não em menores quantidades (ver texto anexo), os portugueses já estão, ainda segundo o painel da TNS Eurotest, a gastar mais 19,4 por cento com o arroz, 17,8 por cento com os ovos ou 12,1 por cento com o leite.
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Como se não bastasse a pressão dos bens alimentares, os juros bancários e os combustíveis também não ajudam. Para os que se endividaram para comprar casa, esse está a mesmo a ser o principal problema do ano.
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Um agregado familiar que tenha contraído um empréstimo de 100 mil euros a 30 anos e que tenha o valor da prestação indexado à Euribor a três meses com um spread de um por cento, está neste momento a pagar uma prestação mensal superior em 50 euros à de há um ano. No fim do ano, o agravamento da factura chega aos 600 euros. Neste capítulo, com o BCE a não dar sinais de querer descer os juros e com os bancos cada vez menos abertos a baixar spreads, o cenário não tende a desanuviar-se.
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O mesmo acontece nos combustíveis, onde um condutor que encha o seu depósito de gasolina duas vezes ao mês paga agora qualquer coisa como 10 euros a mais, em comparação com o que acontecia há um ano.Subsídios à alimentaçãoTudo junto, estão criadas as condições para que, como confirma João Ferreira do Amaral, professor no ISEG, "as famílias mais pobres sintam um impacto muito forte, porque são as que proporcionalmente mais gastam em alimentação". Além disso, a classe média, que aproveitou os primeiros anos do euro para comprar casa e carro com recurso ao crédito, pode entrar agora em dificuldades inesperadas.
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Algo a que os tradicionais mecanismos públicos de resposta à pobreza podem ter mais dificuldades em responder.João Ferreira do Amaral não aconselha uma intervenção do Estado ao nível dos preços, algo que, diz, "nunca deu bom resultado". E defende que ao nível dos combustíveis "é até aconselhável uma diminuição do consumo". No entanto, caso a situação de acesso aos alimentos pelos agregados mais pobres se torne ainda mais grave, uma hipótese de ajuda estatal recomendada por este economista é a entrega de subsídios à alimentação. Se os preços continuarem a disparar, esta pode ser a única solução para um número crescente de portugueses.
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O Governo continua a reagir com distância aos crescentes alertas das instituições de solidariedade social para a existência de situações de fome em famílias de baixos rendimentos. O ministro da Agricultura, Jaime Silva, afirmou há umas semanas que "não haverá racionamento de cereais" e, mais recentemente, Vieira da Silva, ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, avisou que o Governo "não alimentará alarmismos que não se justificam", uma vez que "Portugal dispõe de instrumentos de emergência social e prestações sociais suficientes que apenas têm que chegar eficazmente a quem deles necessita".
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Vieira da Silva recordou que os programas de combate à pobreza extrema "envolvem mais de 400 milhões de euros", mas "mais importante" do que as verbas despendidas é "garantir que cheguem a quem delas necessita", disse Vieira da Silva, sublinhando que o combate à pobreza só pode ser feito "num esforço de cooperação com a sociedade civil", embora "a primeira responsabilidade seja do Estado". (Público)
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Notas do Papa Açordas: É mais uma grande mentira de sócrates: a inflação em 2008 vai ficar nos 2,1 %! Os aumentos não foram além desta bitola, e parece até que não irá haver aumento intercalar, mesmo a inflação ultrapassando os 3,5%, como se prevê.E o (des)governo continua mais calado que um rato...

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