sexta-feira, 9 de maio de 2014

Anonymous: crime ou justiça?

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O governo de coligação PSD-CDS tem falhado em muitos aspetos e - como já se percebeu - arrisca a ser considerado um dos piores desde o 25 de Abril de 1974. Há - contudo - um conjunto nuclear de matérias em que as incompetências e as falhas graves destes políticos acarretam consequências ainda mais gravosas do que as habituais, colocando vidas em risco. É por isso mesmo - e uma vez mais - espantoso que o atual ministro da Administração Interna Miguel Macedo (do PSD) não tenha tido uma palavra de preocupação ou de firmeza perante os ataques informáticos de que as entidades tuteladas pela ministra da Justiça Paula Teixeira da Cruz (também do PSD) têm sido alvo. Não se trataria apenas - bem entendido - de encontrar uma solução no curto prazo para procurar minimizar eventuais danos pessoais, mas seria - sobretudo - uma demonstração de que há uma estratégia de proteção e de combate ao cibercrime.
Contudo - e em meu entender - as ações do "grupo inorgânico" Anonymous que têm levado à exposição pública mundial na internet de dados de procuradores (e até de detalhes da vida privada e pessoal de alguns deles) podem ter uma dupla leitura. Serei - por isso - o mais direto e franco como sempre. Se - por um lado - semelhantes ações são certamente condenáveis e até colocam em causa a popularidade e o ideário de justiça a que muitos associam os Anonymous (basta, para tanto, ler os comentários publicados nas notícias mais recentes), a verdade é que também - e por outro lado - muitos sentem alguma simpatia por este tipo de lutas. Explicando melhor: perante a incompetência reiterada de um péssimo governo, perante a cobrança excessiva e amoral de impostos, perante uma justiça que muitos sentem que não funciona e perante a situação de pobreza e de desespero de muitos portugueses quem - no seu íntimo - não sentirá que qualquer ato de "guerra" contra este estado de coisas é um pequeno sinal de justiça e de resiliência?
Na verdade, e num momento em que se aproximam as eleições europeias de 25 de maio, este até seria o pretexto ideal para se discutirem as políticas europeias em Portugal e - por maioria de razão - os sucessos na sua aplicação ou as graves na sua implementação. Ora no caso particular do cibercrime e do ciberterrorismo, a inércia e os atrasos sucessivos têm tido consequências muito graves e deveriam - no mínimo - levar à demissão dos responsáveis por semelhantes vulnerabilidades. Um ato que seria do mais natural bom senso em democracias modernas e desenvolvidas. Mas estamos - infelizmente - em Portugal e somos governados por um dos piores governos da nossa história democrática recente. Portanto...

(Paulo Pereira de Almeida - Diário de Notícias)



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