segunda-feira, 2 de março de 2015

Passos pagou. Assunto encerrado?

-
Não há quem não saiba. Quando se recebe um salário ou uma avença, quando se tem um contrato de trabalho ou se passam recibos verdes, seja a quantia a receber generosa, sofrível ou miserável, há dois impostos a que não se escapa: um é o famigerado IRS, o outro é a contribuição para a Segurança Social. Também não há quem não saiba que fazer um braço de ferro com o Fisco ou com a Segurança Social sobre este tipo de matérias pode soar heroico, mas na verdade é quixotesco. O Estado tem muitas contas para pagar e, no que diz respeito a rendimentos do trabalho, não perdoa um cêntimo (o mesmo não se pode dizer quando se trata de dinheiro metido numa conta na Suíça, caso em que está sempre disponível para fazer um desconto).
Não há quem não saiba? Enfim, há pelo menos um trabalhador português que, pelos vistos, não sabia. Chama-se Pedro Passos Coelho e revela uma estranha iliteracia financeira para quem exerce o cargo de primeiro-ministro de Portugal. Embora seja verdade que, à data do esquecimento, ainda só tinha sido deputado. Talvez tenha faltado à votação no dia em que foi aprovada a lei que impôs, aos trabalhadores a recibo verde, o pagamento mensal da contribuição para a Segurança Social. Acontece muito, no Parlamento.
O Estado não perdoa um cêntimo? Enfim, há pelo menos um trabalhador português a quem, pelos vistos, perdoa. E curiosamente também se chama Pedro Passos Coelho e exerce o cargo de primeiro-ministro de Portugal. Ao contrário de dezenas de milhares de portugueses que, em 2007 e 2008, foram convocados à pressa pela Segurança Social, para pagarem o que deviam, a notificação que devia ter seguido para Passos Coelho terá ficado esquecida numa gaveta qualquer.
Questionado sobre tudo isto pelo jornal "Público", Passos Coelho acrescentou um brinde: até já sabia do calote desde 2012, mas deixou-se ficar sossegado, era assunto já prescrito. Ainda assim, tencionava pagar, mas só depois de terminar o mandato como primeiro-ministro. Como ficámos a saber, também este fim de semana, Passos Coelho espera que o povo lhe renove o mandato por mais quatro anos. Portanto, saldaria as contas lá para 2019. Mas já que o jornalista levantava a questão, não se falava mais nisso. Arranjou tempo entre numerosos afazeres e pagou a dívida. Assunto encerrado? (Rafael Barbosa - Jornal de Notícias)



Sem comentários: