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1 A discussão sobre se estamos melhor ou pior do que há quatro anos diz-me muito pouco. Não era, evidentemente, possível continuar no trajeto que estava a ser seguido, sobretudo por razões que transcendem muito as escolhas políticas locais. O impacto que a crise teve nas economias mais desprotegidas, os profundos erros da construção do euro, os incentivos errados ao tecido empresarial, o sobre-endividamento, entre outros, mas também o de não termos ainda corrigido os nossos desequilíbrios estruturais, de que os nossos endémicos problemas de produtividade e escassez de capital são os melhores exemplos.
Por outro lado, chegados aqui, percebemos que a solução encontrada apenas piorou a situação. O desemprego real aumentou - o estrutural nem se fala -, a emigração tornou-se um problema gravíssimo, o investimento baixou para níveis impensáveis, os níveis de pobreza subiram e, em termos gerais, o empobrecimento do país e o emagrecimento violento da classe média são reais e assustadores. Além de tudo isso, os tais problemas estruturais de produtividade e falta de capital agravaram-se.
Digamos que apenas se substituiu a morte pelo fogo por uma por afogamento.
Neste contexto poder-se-iam perceber as palavras de António Costa sobre o país estar diferente. Só que não foi o que o líder do PS disse, ele deu a entender que o país estava melhor do que há quatro anos. E, que fique claro, não houve nenhuma gaffe. Costa quis mesmo dizer o que disse. Foi o próprio e alguns membros do PS invocando sentido de Estado e de não se dever criticar o país perante estrangeiros. Digamos que alguma coisa não está certa no pensamento de Costa, quando pensa que ter sentido de Estado é desdizer o pouco que tem dito ou que a única maneira que encontra de elogiar o país e os investidores estrangeiros é dizer bem da ação do governo.
Já sabíamos que a estratégia de Costa é não dizer nada. Até poderia pensar-se, dado o acontecido, que ficar calado talvez seja melhor para o seu objetivo de ser primeiro-ministro, é que elogiar o governo não parece ser grande ideia para o líder da oposição.
Mas, claro, não será bem isso. Convém, assim, tentar perceber melhor a opção pelo mutismo político. No fundo, António Costa acha que nada pode prometer, que em nada se pode comprometer, porque, dado que não se sabe ainda para que lado a Europa se vai virar, tudo pode mudar. Será quase escusado lembrar que o imprevisto é isso mesmo: o impossível de prever. A atuação de Costa é como a daquele cidadão que não sai de casa porque pode cair-lhe um piano na cabeça.
Chega a ser confrangedor ver o PS sem uma palavra sobre que propostas tem para reverter os dados da pobreza, nem sequer um comentário sobre a sangria de centenas de milhares de jovens que fogem para o estrangeiro, sobre o desemprego estrutural. Sim, a Europa pode mudar ou seguir o mesmo caminho suicida, mas há um sem-número de medidas internas, de opções que podem ser feitas no nosso país. Que diz António Costa? Nada. Ou melhor, logo se vê.
Claro que tem uma vantagem, não fará como Passos Coelho que mentiu com quantos dentes tinha na boca, mas a diferença na essência não é muita. Os "se", "talvez", "pode ser que" não passam de um pedido de um cheque em branco para governar como muito bem se entender, sem a mínima preocupação em explicitar o que se quer para a comunidade. E esses cheques já ninguém quer passar. Os cidadãos estão tão fartos de promessas não cumpridas como de gente que simplesmente acha que chegou a sua vez de governar e para nada dizer se refugia em futuros incertos.
2 A leveza, digamos assim, com que a procuradora-geral da República tratou, em entrevista ao Público, questões graves ligadas à justiça deixou-me preocupado. Mas de todos os assuntos que abordou, a forma como falou do dossiê submarinos foi especialmente chocante.
Disse a senhora procuradora que "o caso dos submarinos é daqueles que darão uma imagem não muito simpática do Ministério Público, mas também órgãos de polícia criminal e outros órgãos... Ver onde houve passos menos corretos e tornar-se um case study que nos permita melhorar a nossa capacidade de investigação criminal. Aí o MP terá de reconhecer que podia ter tido um desempenho mais adequado".
Salvo melhor interpretação e parecendo-me evidente que não se quis criticar a ação do MP e das polícias criminais por terem deixado passar informações para o espaço público que puseram em causa o bom nome de várias pessoas, nomeadamente de Paulo Portas, estas declarações fazem lembrar processos que, infelizmente, conhecemos demasiado bem: nada se conseguiu provar, ninguém foi sequer acusado, mas deixa-se uma suspeição no ar, uma espécie de condenação na praça pública que não se conseguiu fazer nas instâncias próprias. E feita por quem devia deixar absolutamente claro que, não tendo havido julgamento ou sequer acusação, nada mais haveria para dizer.
Continuem, então, os responsáveis políticos, os partidos, o Presidente da República e praticamente toda a gente a fingir que não temos um problema sério na nossa justiça. (Pedro Marques Lopes - Diário de Notícias)
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