"O primeiro-ministro afirma: "Não tinha consciência de que essa obrigação era devida." A frase refere-se ao período, entre 1999 e 2004, em que Passos Coelho trabalhou a recibos verdes por 2500 euros mensais na empresa Tecnoforma (para além de uns trocos não especificados, ganhos a colaborar com a empresa LDN e a associação URBE) sem pagar uns parcos 77 a 96 euros mensais à Segurança Social.
O então "trabalhador precário", tentado, sem sucesso, a singrar fora da política depois de servir a Nação como deputado, julgava ser possível escapar à contribuição. Talvez seja erro de um raciocínio neoliberal, não sei... Sei é que tal ignorância denuncia o pouco que ele apreendeu sobre o Estado, durante oito anos, sentado no hemiciclo parlamentar.
A ignorância ou o esquecimento são armas políticas recorrentes. O próprio Passos, quando foi apertado há uns tempos sobre quanto auferira nessa mesma Tecnoforma e na organização não governamental satélite, o Centro Português para a Cooperação, também explicara a incapacidade em ser rigoroso na resposta com a falta de memória imposta pela passagem do tempo.
Já tivéramos um presidente de um banco a esquecer-se de declarar oito milhões de euros ao IRS e a ser tratado com condescendência pelo fisco. Na comissão parlamentar que analisa o caso BES passam todas as semanas grandes figuras a alegar ignorância ou desconhecimento de minudências como remunerações no valor de vários milhões de euros, paradeiros de dinheiros pagos em negócios estranhos, informações sobre a falta de solidez do banco, conselhos dados aos papalvos para comprarem ações de uma instituição à beira do colapso, etc., etc.
Tivemos o ministro Mota Soares a garantir que os cidadãos não devem pagar pelos erros da administração pública (neste caso por não ter recordado o pagamento a Passos Coelho), esquecendo-se das penhoras que o fisco faz, todos os dias, à cabeça, sem haver ainda decisões do tribunal sobre conflitos entre as Finanças e muitos desses contribuintes .
O coitado do jornalista que noticiou o incumprimento de Passos Coelho - José António Cerejo - é que não deve olvidar-se de todas as vezes que avançou notícias deste género: anima a malta durante uma semana ou duas mas vê os factos serem rapidamente ignorados. Começou em 1997, com a revelação de uma falha no imposto da sisa cometida pela agora respeitável hipótese do Partido Socialista para a Presidência da República, António Vitorino - coisa de que já ninguém quer lembrar-se.
Eles esquecem-se e, por isso, permanecem virtuosos para a intervenção pública. É chocante? Talvez, mas, para ser sincero, já não é inesperado... e isso é o mais grave." (Pedro Tadeu - Diário de Notícias)
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