"Recordemos: Miguel Relvas, ministro adjunto de Passos Coelho, convocou os jornalistas para apresentar a demissão na sequência de notícias sobre uma licenciatura duvidosa.
Recordemos: Miguel Macedo, ministro da Administração Interna, saiu por achar que não devia continuar no cargo após vários dirigentes de serviços por si tutelados terem ido para a cadeia sob suspeita de crime na concessão de vistos gold.
Outras recordações: o secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário, João Grancho, saiu por causa de um plágio. Paulo Simões Júlio, da Administração Local, demitiu-se por alegado favorecimento de um primo quando era autarca. Joaquim Pais Jorge caiu por dizerem que negociou com o anterior governo um empréstimo swap. Franquelim Alves sucumbiu por estar ligado ao BPN, atividade omitida do seu currículo oficial.
Os motivos destas demissões são comparáveis à falha de pagamento, por Passos Coelho, de contribuições para a Segurança Social?
Ser favorecido por uma universidade na obtenção de um canudo é mais grave para um governante do que não pagar ao Estado?
Não ter percebido que um potencial crime se passa debaixo do nariz, supostamente praticado por gente com reputação à prova de bala, é pior para a autoridade de um político do que não saber que tinha de fazer descontos para a "caixa"?
Um plágio é mais desprestigiante do que uma fuga ao fisco cometida, pelo menos, 32 vezes?
Ter aconselhado um swap legal é equiparável a ter ignorado a lei contributiva durante cinco anos e depois impor rigor marcial na cobrança de impostos ao país?
Não ter alertado as autoridades sobre desconfianças relativas à gestão do BPN e omitir informação do currículo oficial é mais grave do que não responder à autoridade parlamentar que pergunta para quem trabalhou e quanto recebeu, no passado, o atual primeiro-ministro?
O homem que aceitou e, talvez, tenha provocado aqueles pedidos de demissão está ao nível de um Miguel Relvas ou de um Pais Jorge?
Demitir um primeiro-ministro implica a queda do governo. É grave. Mas governar sem passar por um julgamento político acerca de factos concretos e indesmentíveis, capazes de alterar profundamente a perceção dos cidadãos sobre quem comanda o poder executivo, é falsear a democracia representativa, o que é muito mais grave.
É claro que um cidadão imperfeito pode ser primeiro-ministro mas só quando quem vota conhece essas imperfeições e o julga, iliba ou perdoa através de eleições. Esta sim é a visão de Estado necessária para resolver este problema.
O resto é mesmo politiquice, daquela que o Presidente Cavaco Silva afirma detestar."
(Pedro Tadeu - Diário de Notícias)
Sem comentários:
Enviar um comentário