sábado, 28 de setembro de 2013

Notas de campanha

-
"1 As últimas sondagens sugerem-nos que, afinal, a campanha autárquica (aquela que infelizmente não se viu nas televisões) tocou as pessoas e mudou a realidade percebida. Adivinham-se já desfechos inesperados, desgostos sérios tanto para lobbies locais como para gente sempre pronta a atropelar princípios éticos, morais, sociais e, até, profissionais.
Olhando para o que se passou - e não vou falar nem em nomes nem em siglas de partidos para não dar que fazer à CNE - há razões para acreditar que a cidadania ainda existe. Assim continue a haver pessoas com princípios e com determinação. E nesta campanha houve algumas. Felizmente.
2 É evidente que amanhã, depois da única sondagem que conta, haverá leituras políticas nacionais a fazer, sobretudo a partir dos resultados das grandes cidades e dos totais somados, de votos e de câmaras. Pode ser que isso enjoe os puristas da democracia, a quem António Guterres deu uma lição de responsabilidade há pouco mais de uma década, mas é assim em todo o mundo - e não escaparemos a isso, sobretudo no que se refere aos dois maiores partidos nacionais (que não digo quais são, não vá a CNE sobressaltar--se...). Em qualquer dos dois haverá alegrias e desgostos porque é dentro das famílias que quase sempre se encontram os ódios mais mesquinhos e tristes.
3 Claro que a Lei Eleitoral tem de ser mudada. Agora os diretórios partidários perceberam a mensagem, e um ou outro (não digo quais, não vá a CNE encaminhar o assunto para tribunal...) até gostariam de poder voltar atrás para evitarem que esta campanha tivesse sido, sobretudo nas televisões, aquilo que foi: mais um debate nacional. Falou-se da troika, do défice, da dívida, das 40 horas, do Inglês nas escolas, do BPN (pouco, sempre pouco...), de swaps, mas quase nada dos problemas locais. Esses mal se descortinaram entre arruadas e visitas a mercados. Talvez fique para a próxima se os partidos e, os seus deputados, assim o quiserem. E talvez não queiram.
4 Esta campanha, como sempre acontece, mostrou políticos intranquilos na sua relação com a imprensa (não vou aqui revelar nomes porque a CNE quereria ver já os sms que vou guardar para publicar um dia no tempo que eu determinar). Qualquer pequena notícia que não agrada é um sinal visível de um complot organizado. Os nervos ficam como a educação: à flor da pele. Homens aparentemente ilustres são capazes de dizer, e até escrever!, palavras reveladoras da forma como veem o mundo: de um lado quem manda e do outro quem julgam que deve obedecer. A vida pública nacional produz muitos mitos com pés de barro e, sobretudo, reserva-nos surpresas absolutamente inesperadas.
5 Esta campanha mostrou que em Portugal não há um único político que se esteja nas tintas para ganhar eleições. Claro que todos as querem ganhar. Seria anormal, aliás, que assim não fosse. Quem disser o contrário mente. Se alguém alguma vez o disse, mentiu. Mas também não aponto nomes porque estamos em dia de reflexão, outra preciosidade pré-histórica, e também não será por aqui que a CNE me vai apanhar..." (João Marcelino - Diário de Notícias)

Sem comentários: