quarta-feira, 18 de julho de 2012

O bispo que não se esconde

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Manuel António Pina

O que o bispo D. Januário disse na TVI não foi, como clama o jornalismo de
 "soundbyte", que "este Governo é profundamente corrupto". Disse que "há 
jogos atrás da cortina, habilidades e corrupção, este Governo é profundamente 
corrupto nestas atitudes a que estamos a assistir". Há uma diferença essencial. 
E há uma desonestidade igualmente essencial quando se retiram da frase 
algumas palavras omitindo o resto.

Por coincidência, no mesmo dia o vice-presidente da Transparência Internacional 
afirmava que os envolvidos nas privatizações da EDP e da REN devem ser chamados 
a responder pelo que se terá passado "atrás da cortina". E, no dia anterior, fora 
noticiado que a PJ e o DCIAP fizeram buscas nos bancos ligados a essas privatizações, 
não decerto por estarem seguros de que tudo se terá passado sem as "habilidades" ou 
sem a "corrupção" de que fala o bispo.

A reacção do ministro Aguiar-Branco, tomando as dores dos "alguns" a quem 
D. Januário insistentemente se reporta, traiu-o: mandou o bispo escolher entre 
"ser bispo (...) e ser comentador político". O mesmo que Salazar queria que D. António 
Ferreira Gomes fizesse.

E imagino o que diria Aguiar-Branco se D. Januário também tivesse, como o bispo do 
Porto, condenado o "financismo 'à outrance'", o "economismo despótico", o "benefício dos 
grandes contra os pequenos", a "opressão dos pobres" e o "ciclo da miséria" hoje 
promovidos pelo Governo. (Jornal de Notícias)
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