terça-feira, 19 de agosto de 2014

E se Marinho e Pinto ganhasse as eleições?

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"Estava convencido de que Marinho e Pinto ia cinco anos para o Parlamento Europeu, sossegado, ganhar um rico salário para em 2019, já com 70 anos, legitimamente se reformar. Afinal, não.
Depois da noite eleitoral de 25 de maio e dos fantásticos 234 788 votos que o elegeram para representar a nação em Estrasburgo com um surpreendido José Inácio da Silva Ramos Antunes de Faria, circunstancial camarada, companheiro e amigo do Movimento Partido da Terra (MPT), até escrevi que provavelmente o antigo bastonário dos advogados dava a participação na vida pública concluída e desapareceria. Enganei-me: ele anunciou que quer candidatar-se a primeiro-ministro.
Há pelo menos uma pessoa no mundo que deve estar ansiosa com a decisão: a senhora Maria do Rosário Cid dos Santos Trindade de Oliveira Pacheco, empresária de Portimão e terceira colocada na lista do MPT de candidatos ao Parlamento Europeu , cuja vida empresarial poderá ser perturbada pelo desafio de substituir o advogado nos sonolentos debates da instituição menos poderosa do poder europeu.
Mas, pelo que vejo nos jornais e oiço em comentários televisivos, o pessoal político/jornalístico do País está tanto ou mais abananado do que a senhora Maria do Rosário deve estar...
Imaginemos que nas próximas legislativas Marinho e Pinto consegue um milhão de votos e será encarregado por um perplexo Cavaco Silva de formar governo. Ou que se mantém na fasquia dos 235 mil votos e elege os deputados suficientes para ser convidado pelo PS ou o PSD a participar numa coligação governamental? Isso traduz alguma mudança consequente para o País? Lamento mas acho que não.
Marinho e Pinto já fez muita coisa admirável e, felizmente para ele e infelizmente para esta classe política e económica que nos domina, tem demasiadas vezes razão nas críticas que faz aos pequenos e grandes poderes do País.
Mas, para mim, caiu do pedestal quando foi eleito bastonário. Nessa altura impôs, e bem, receber um salário equivalente ao de procurador-geral da República, cujo valor é público. Mandei, nessa altura, um jornalista perguntar-lhe qual era em concreto o valor do salário que passava a receber na Ordem. Disse que isso era assunto da sua vida privada e, por isso, não respondia. O campeão da transparência e da moralidade da vida pública morria assim pela boca: quis o mesmo estatuto do procurador mas recusou receber o mesmo escrutínio público do seu par do Ministério Público.
Ter Marinho e Pinto num governo pode ser divertido, pode até melhorar alguma coisa. Depois desse dia em 2007, porém, fiquei convencido, desiludido, de que no essencial ele é igual a muitos dos que critica... Mas talvez me engane outra vez."
(Pedro Tadeu - Diário de Notícias)


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