"Um dia o banqueiro J.P. Morgan chamou a casa os banqueiros mais ricos dos Estados Unidos da América e disse-lhes mais ou menos isto: "Se não nos organizamos de forma a tirar os bancos de Nova Iorque da falência, vamos todos ao fundo." Essa coligação extraordinária meteu os milhões necessários para resolver a crise conhecida como "Pânico de 1907".
J.P. Morgan fez saber, no entanto, que aquela seria a última vez que poderiam contar com ele. A Reserva Federal dos EUA foi então criada, entre outras coisas, para servir de seguro de último recurso aos bancos em dificuldade. Os grandes banqueiros não seriam jamais chamados a resolver, sozinhos, os sobressaltos sistémicos do negócio.
Quando domingo passado ouvi Carlos Costa dizer que os capitais do Novo Banco que substitui o BES "não incluem fundos públicos", vêm do Fundo de Resolução que "resultava das contribuições iniciais e periódicas das instituições financeiras e das receitas provenientes da contribuição que incide sobre o setor bancário", imaginei que estava perante uma operação semelhante à de J.P. Morgan no princípio do século passado: a banca organizava-se para se salvar. Era bonito... Mas a frase seguinte do governador do Banco de Portugal tirou-me as cândidas ilusões: "O Fundo teve de contrair um empréstimo temporário junto do Estado português."
Os bancos portugueses, afinal, entram com um duodécimo (repito, um duodécimo) do valor necessário para salvar o BES "bom" e, possivelmente, todo o sistema financeiro português: uns ridículos 380 milhões de euros. O resto dos 4900 milhões vêm do Estado através do tal "empréstimo temporário"(haverá empréstimos não temporários?!) que o contribuinte paga, direta ou indiretamente, à troika. Digamos antes que é uma "nacionalização temporária".
Quando ouvi Carlos Costa dizer que esta operação "não terá qualquer custo para o erário público, nem para os contribuintes", ouvi uma falsidade, pois ninguém pode, neste momento, assegurar esse saldo final. Há, só, essa esperança...
Mas o banco central também assegurava a 11 de julho que "não existem motivos que comprometam a segurança dos fundos confiados ao BES" e ainda na sexta--feira comunicava que "estão reunidas as condições necessárias à continuidade da atividade desenvolvida" pelo BES.
Era fácil, no domingo, voltar a acreditar na palavra do governador do Banco de Portugal: bastava ter dito que esta solução era a que ele "achava" ter "menor custo" para o erário público.
Não sabemos porquê (e isso é alarmante), essa elementar prudência não serviu o propósito do anúncio da separação do "banco mau" do "banco bom"..."
(Pedro Tadeu - Diário de Notícias)
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