"1 As próximas eleições europeias trazem perigos para todos os partidos que têm assegurado a governação em Portugal.
A coligação no poder, PSD e CDS, tem necessidade de listas conjuntas, de que os militantes não gostam (como se percebeu no congresso do partido de Portas). Mas é melhor assim do que uma campanha na qual ambos tenham de falar do que se passou no último verão ou doutras divergências irrevogáveis, de linhas vermelhas ou da carta de demissão do antigo número dois do Governo, Vítor Gaspar.
Ao PS, as europeias impõem pensar melhor na intenção inicial de apresentar Francisco Assis como cabeça de lista. Uma derrota, percebe--se pela constante pressão de José Sócrates e António Costa (que não parecem ser exatamente a mesma coisa...), reabriria todos os cenários e até uma vitória escassa poderia representar um regresso a uma contestação mais aberta a António José Seguro. Neste caso, a personalidade da figura a escolher pelos socialistas não é questão de somenos. O PS, a crer nas últimas notícias, parece bastante pressionado pelos movimentos à esquerda - de Carvalho da Silva à incógnita do "Livre", de Rui Tavares. Provavelmente, Seguro olhará até com mais atenção para a possibilidade de avanço do ex-bastonário dos advogados Marinho e Pinto como candidato potencial do Partido da Terra. Não é o ensaio para as presidenciais que mais interessa neste caso. A questão está em que, além do discurso antipartidos, trata--se de um homem capaz de interpretar um certo populismo de esquerda e que no passado, em diversas ocasiões, esteve ao lado de Sócrates em alturas difíceis, tanto do ponto de vista pessoal como político. Talvez por isso o PS esteja a esforçar-se no sentido de atrair figuras emergentes na esquerda, como o ex-reitor da Universidade de Lisboa Sampaio da Nóvoa.
2 Estamos, um pouco por todo o lado, sob o signo da necessidade. E assim, mais uma vez, corre-se o risco de falar pouco da Europa, dos seus problemas velhos - e dos novos, colocados pela crise. Estas vão ser umas eleições muito marcadas pelo crescimento de vários movimentos anti-União Europeia, dos eurocéticos ingleses à extrema-direita francesa, e com muitos votos a serem determinados pelo perigo do regresso dos nacionalismos, de que falou Durão Barroso em Yuste.
É por esta Europa se apresentar recheada de perigos no futuro imediato que é importante perceber as diferenças entre os partidos que defendem um aprofundamento de uma governação económica e financeira da União - e os outros, aqueles que se esgotam nas críticas sem nunca nada terem a oferecer para além de devaneios.
Portugal tem de decidir se quer ser um país em que uma economia de mercado com regras recompensa quem trabalha e tem ideias ou se continua a sonhar com o regresso impossível ao tempo do Estado que protege tudo e todos e onde se enriquece à conta dos amigos, da agenda de contactos.
Há sempre espaço numas eleições, mesmo que europeias, para os jogos de poder nacionais. Mas seria incompreensível que as próximas não servissem também para esclarecer os cidadãos sobre o que os partidos pensam do futuro da Europa e do equilíbrio que é fundamental dar a este espaço, no qual não pode ser normal que as empresas, como igualmente reconheceu Barroso no excelente discurso com que recebeu o Prémio Carlos V, tenham custos de financiamento desiguais.
Na próxima campanha a coligação tem de dizer se vai continuar a ser um parceiro dócil dos grandes da Europa. E o PS tem de deixar claro que não tem as mesmas dúvidas dos radicais que parecem pressionar o partido. Sem estes dois esclarecimentos, é caso para estarmos (mais) preocupados.
Para além dos pequenos jogos florais: quem tem medo que as pessoas se pronunciem, em referendo, sobre a adoção por casais do mesmo sexo? Há referendos bons e referendos maus?" (João Marcelino - DN)
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