segunda-feira, 16 de julho de 2012

A "vida fácil" dos outros

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Manuel António Pina

Os números são relativos a 2010, ainda antes do PEC 1, PEC 2 e PEC 3, do 
memorando da "troika" e do Governo PSD/CDS: 18% dos portugueses, segundo
 o INE, e 25,3%, segundo o Eurostat, estavam em "risco de pobreza", eufemismo 
estatístico que significa que viviam com menos de 421 euros/mês, ou seja, que 
eram pobres.

Entretanto, Passos Coelho chegou a primeiro-ministro, clamando que "os 
portugueses não podem suportar mais sacrifícios". Afinal, podiam: em pouco
 mais de um ano, o desemprego subiu de 10,8% para 15,2%, foram drasticamente 
reduzidas as prestações sociais, confiscados, contra todas as promessas eleitorais, 
os subsídios de férias e Natal a funcionários públicos e pensionistas e aumentado o 
IVA para 23%, subiram para valores incomportáveis as taxas moderadoras no SNS, 
reduziram-se até à irrelevância as deduções no IRS e IRC e as isenções no IMI, 
aumentaram brutalmente os transportes, a electricidade e o gás, despedir tornou-se 
fácil e barato, multiplicou-se o trabalho precário e sem direitos, regressou o trabalho 
infantil...

Hoje há 1,4 milhões de pensionistas a viver com menos de 500 euros/mês, 550 mil 
trabalhadores com 485 euros (431,6 após os descontos) e 416 mil desempregados 
não recebem subsídio de desemprego. Tudo isto, como explicou Cavaco Silva a um 
jornal holandês, porque foram "demasiado negligentes e estão hoje a sofrer as
 consequências de "uma vida fácil". (Jornal de Notícias)
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