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Manuel António Pina
Os números são relativos a 2010, ainda antes do PEC 1, PEC 2 e PEC 3, do
memorando da "troika" e do Governo PSD/CDS: 18% dos portugueses, segundo
o INE, e 25,3%, segundo o Eurostat, estavam em "risco de pobreza", eufemismo
estatístico que significa que viviam com menos de 421 euros/mês, ou seja, que
eram pobres.
Entretanto, Passos Coelho chegou a primeiro-ministro, clamando que "os
portugueses não podem suportar mais sacrifícios". Afinal, podiam: em pouco
mais de um ano, o desemprego subiu de 10,8% para 15,2%, foram drasticamente
reduzidas as prestações sociais, confiscados, contra todas as promessas eleitorais,
os subsídios de férias e Natal a funcionários públicos e pensionistas e aumentado o
IVA para 23%, subiram para valores incomportáveis as taxas moderadoras no SNS,
reduziram-se até à irrelevância as deduções no IRS e IRC e as isenções no IMI,
aumentaram brutalmente os transportes, a electricidade e o gás, despedir tornou-se
fácil e barato, multiplicou-se o trabalho precário e sem direitos, regressou o trabalho
infantil...
Hoje há 1,4 milhões de pensionistas a viver com menos de 500 euros/mês, 550 mil
trabalhadores com 485 euros (431,6 após os descontos) e 416 mil desempregados
não recebem subsídio de desemprego. Tudo isto, como explicou Cavaco Silva a um
jornal holandês, porque foram "demasiado negligentes e estão hoje a sofrer as
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