domingo, 9 de agosto de 2015

Pais facebookianos

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"Numa sociedade em que as crianças são cada vez mais escassas, aumenta, na mesma proporção, a preocupação securitária que avalia os riscos a que estão expostas. Muitas vezes com exagero. Um jogo de futebol mais rijo que rasgou as calças e feriu um joelho torna-se indignação com direito a notícia porque a escola permitiu, não controlou. Tanta escassez de crianças torna cada perigo público numa ameaça que mobiliza pais e comunidades escolares. Por outro lado, a desvalorização dos tempos livres e a ausência de espaço público apropriado vão inibindo uma das ferramentas mais poderosas na educação de alguém: aprender a brincar. Esquecemo-nos que brincar é uma aula que organiza os afetos, que constrói a amizade, o espírito de grupo, a vivência de experiências em liberdade sem a obrigatoriedade do programa escolar. Aprender a brincar é um dos momentos mais importantes do crescimento porque avalia o risco e aproxima amigos. O tempo livre, nas mãos imbecis dos programadores da educação, é um intervalo onde surgem ameaças, e os pais vão na conversa. Menino ou menina bem-comportadinhos estão em casa, agarrados à consola de jogos ou viajando pelas redes sociais. Na solidão do seu quarto, teclando, ignorando o valor do corpo para o conhecimento, ficcionando conquistas e amizades que não passam de imagens. Algumas delas falseando a realidade. Esta solidão tornou-se o terreno propício para o disfarce, para a cobardia de criminosos que se aproveitam da invenção tecnológica para inventar vidas que não existem. E muitas são as crianças, crédulas, imaginando que aquela imagem reproduz a realidade, que caem na ratoeira. Predadores sexuais, pedófilos, psicopatas surgem na rede em angélicas fotos de outros meninos, mentindo sobre quem são, seduzindo, atraindo, aproveitando a imaginação dos mais inocentes. Foi notícia, esta semana, uma menina de 15 anos assassinada por um destes impostores. São milhares as fotos intercetadas pelas polícias, de crianças que se despiram, em posições obscenas, por vezes fugindo de casa à procura do príncipe encantando que, afinal, é um monstro. Filhos menores não são amigos. São filhos. É nossa obrigação tutelá-los, desembaraçá-los dos perigos que a falsa ilusão de estarem sozinhos parece garantir. Muitos destes meninos são, afinal, os mais expostos, porque não brincaram, nunca lhes foi ensinado a medir o risco. Infelizmente!
(Francisco Moita Flores - Correio da Manhã)

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