"Contou há dias António Nogueira Leite que chegou a ser convidado por Passos Coelho para presidente da Caixa Geral de Depósitos mas que, uma semana depois de lhe ter sido proposta a estupenda ideia, o primeiro-ministro pediu-lhe imensa desculpa: Afinal, António, não vai dar. E o António lá fez marcha-atrás, aceitando mais tarde o subalterno lugar de administrador executivo - cargo que acabou, logicamente, por não cumprir até ao fim. Apesar da naturalidade com que Nogueira Leite contou o episódio - até com invulgar diplomacia -, eu não me lembro, a este nível, de nenhum caso deste calibre. Conheço histórias de nomes atirados para o ar e queimados na praça pública por fontes anónimas. Já se sabe: os jornais não têm escrúpulos. Nomes incinerados em manchetes e até em humilhantes breves assassinas. Pessoas jogadas para a imprensa para provocar reações, consternações, bloqueios e rivalidades, até para comprometer ou promover currículos. (Por acaso não se arranja para aí nenhuma promoção fantasma para a minha modesta persona pública?...)
O que eu não estava habituado era ao permanente baloiçar de um primeiro-ministro. O que eu não estava habituado era ser ele a fonte da bagunça. Ora sim, ora não, ora talvez, ora nem tanto. Ora bolas. É esta a lógica da coisa. Vivemos na incerteza. Na Caixa temos mais exemplos deste processo revolucionário em curso. O presidente que foi nomeado para o lugar que tinha sido oferecido a Nogueira Leite, o discreto José de Matos (escolha pessoal de Gaspar, de quem era vizinho de gabinete no Banco de Portugal...), partilha o poder com o chairman Faria de Oliveira, que se subdivide ainda na função de presidente da Associação Portuguesa de Bancos. Ora bem, este sistema de duas cabeças - um presidente/CEO e um chairman; um presente e outro meio ausente - foi ideia deste Governo, que a impôs, mas aparentemente a coisa não está segura. Especula-se agora que tudo pode voltar a mudar em breve para regressar ao desenho anterior. Verdade? Mentira? Evidentemente, ninguém sabe, mas entretanto anda muita gente desconfiada a olhar por cima do ombro.
A loucura é total. Primeiro o Governo dizia que queria privatizar a Caixa. Depois que só a privatizava em parte. A seguir que lhe ia arranjar a concorrência de um banco de fomento. Depois que ia ser ela própria o banco de fomento. Mais tarde que a Caixa tinha ela própria de criar um banco segurador para ajudar as empresas a exportar - isto enquanto é forçada a vender os seus outros negócios de seguros. Mais tarde que tinha de baixar imediatamente os juros cobrados às empresas. E logo depois que tinha (tem) de emprestar dinheiro a todas as empresas e afins. Um governo liberal talvez chame a isto pensar fora da caixa. Não será antes dar cabo da Caixa?" (André Macedo - Diário de Notícias)
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