domingo, 5 de maio de 2013

O irregular funcionamento das instituições

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"Tudo começou nas promessas eleitorais com o célebre ajuste rápido e indolor, os famosos custos intermédios que resolveriam o despesismo do Estado e a negação de qualquer corte salarial. O desastre do dossier TSU. A manutenção incompreensível de Miguel Relvas no Governo. A lista é demasiado grande para ser minimamente exaustiva, mas, claro está, as afirmações constantemente repetidas de que estamos a ter sucesso, que estamos no bom caminho, face à realidade que todos vivemos são tão delirantes que chegam a ser ofensivas.

A tudo isto deve ser acrescentada a balbúrdia no Governo que obviamente é responsabilidade do primeiro-ministro. Um dia apresenta-se um plano de fomento e crescimento (digno de um aluno de primeiro ano de Economia, diga-se) para uns dias depois ser apresentado o Documento de Estratégia Orçamental que torna inexequíveis quaisquer medidas, por muito ténues que fossem, do tal plano. DEO, aliás, que é um delírio absoluto: desde responsabilizar os portugueses por todos os males que lhes estão a acontecer, passando pela reprodução do argumentário alemão para as razões da crise até prever que em 2014 a nossa economia crescerá 0,6% com todos os cortes anunciados, com o desemprego em rápido crescimento e com a Zona Euro estagnada, vale tudo. Noutro dia, o ministro para o Consenso envia cartas de amor, para no dia seguinte o ministro Gaspar gozar com os deputados dizendo-lhes que mandou o DEO para a Comissão Europeia e uns minutos antes para eles ou atribuindo ao PS, que Maduro tenta seduzir, comportamentos patológicos.

Entretanto, vamos sabendo que dentro do Governo as reuniões duram horas infindas porque os ministros do PSD não concordam com a estratégia de Gaspar e de Passos. O Governo está totalmente partido e são os próprios ministros que o revelam. Dissensão que se alastra ao próprio PSD, onde parte importante do partido discorda e não se reconhece na acção do Governo.

Não há como ignorar, o primeiro-ministro está completamente descredibilizado e a instituição Governo não está a funcionar regularmente. Há um órgão de soberania que tem a responsabilidade de actuar quando isso acontece, mas esse órgão também não está propriamente a funcionar regularmente. Nada, aliás, parece estar a funcionar regularmente. Não me recordo de existirem tão poucas razões para estar optimista." (Pedro Marques Lopes-Diário de Notícias)


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