quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O mistério dos juros

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Manuel António Pina
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É sabido que Cavaco Silva nunca se engana e raramente tem
dúvidas. Por isso não se enganou decerto quando anunciou aos
portugueses (e também decerto sem ter qualquer dúvida sobre
isso) que, se houvesse segunda volta nas eleições presidenciais,
uma apocalíptica "subida das taxas de juros" iria desabar sobre
"empresas e famílias".
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É certo que Cavaco não disse preto no branco que, não havendo
segunda volta, os juros desceriam ou se manteriam. Mas deu-o a
entender (preto no branco), e como qualquer pessoa tem que
nascer duas vezes para ser tão sério quanto Cavaco, Cavaco não
o daria a entender se não fosse verdade. Por isso, e para lhe
agradecerem o aviso, é que "empresas e famílias" o elegeram no
domingo uma absolutíssima maioria de 23% do total de eleitores.
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Daí que agora não compreendam como é que, três dias depois de,
como Cavaco pediu, o terem eleito à primeira volta, os juros da
dívida pública continuam a ir olimpicamente por aí acima, "citius,
altius, fortius", tendo ontem chegado no mercado secundário à
bonita taxa de 7,119%.
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Talvez Cavaco se tenha esquecido de dizer aos mercados que
podem regressar aos quartéis porque não haverá segunda volta.
Ou talvez ande ocupado a tentar saber os "nomes daqueles que
estão por detrás" da "campanha de calúnias, mentiras e insinuações"
contra si e ainda não tenha tido tempo de telefonar aos mercados.
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Mas que urge que Cavaco faça alguma coisa, urge.
(Jornal de Notícias)
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1 comentário:

C Valente disse...

Nem sei o que dizer, políticos destes nem Deus nos livra, será castigo?
Saudações amigas