quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

426 €

426€

Como reacção ao aumento do salário mínimo nacional, os rapazes da Juventude Popular viram um "power point" de introdução à economia e decidiram avançar: são contra a existência do salário mínimo. O argumento é portentoso: a obrigatoriedade de pagar estes exorbitantes 426 euros por mês a um trabalhador "enfraquece os rendimentos dos portugueses e atrasa a economia" por "impedir de trabalhar quem estiver disponível para trabalhar por valor inferior a esse preço".
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Esta imposição legal perturbaria o normal funcionamento do mercado. Deviam ir mais longe: a existência de qualquer Direito do Trabalho é uma inaceitável perturbação do mercado quando há quem esteja "disponível" para trabalhar sem férias, sem licença de parto, sem 13º mês, 12 horas por dia e sete dias por semana. Porque a vida das pessoas "atrasa a economia".
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Podiamos pedir aos jovens do CDS um único estudo onde se mostre que a existência deste paupérrimo mínimo de sobrevivência cria desemprego. Podiamos mostrar-lhes como salários excessivamente baixos são nefastos para a economia e para o desenvolvimento de empresas competitivas. Podiamos explicar-lhes que a relação assimétrica de poder entre empregador e empregado destrói o simplismo da lei da oferta e da procura explicada às criancinhas. Mas talvez seja melhor começar pelo mais básico: pôr estes aprendizes de políticos a viver com 426 euros por mês. Basta um ou dois meses. Passa-lhes logo o liberalismo de algibeira.
(Daniel Oliveira - Expresso)
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Nota do Papa Açordas: Aprovo a sujestão do Daniel Oliveira de obrigar estes "queques" a viver com os 426 euros...