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A política europeia começa a tomar gosto em recorrer ao "quarto vermelho". Neste, como todos julgamos saber pela meia centena de sombras com que se pode tratar a sexualidade, os jogos de risco são bem-vindos. Ainda estamos em pleno embate amoroso Atenas--Berlim, cheio de mordaças e ameaças - "bate-me!", diz o masoquista, "não!", diz o sádico - e eis que a Paris também se mete em maus lençóis. Deixem-me lembrar: o tradicional casal gaulês, Esquerda-Direita, já era. Os socialistas estão no poder mas com maioria frágil e Sarkozy preocupa-se menos em fazer oposição do que com os seus calcanhares mordidos por uma renovada extrema-direita. Isso quanto à política politicienne, como os franceses dizem com desprezo. A outra política, a ligada à estrutura da sociedade francesa, muito conservadora, ontem parecia ter acordado para um sopro de realidade. O primeiro-ministro Valls e o seu ministro da Economia Emmanuel Macron têm um projeto de lei para agilizar a economia (por exemplo, tratar o domingo como um dia especial mas não santificado). Um projeto só sobre sexo reprodutivo. À sua esquerda, Valls esperava a natural recusa, mas teve-a também dentro do seu partido e também do UMP (apesar de este advogar as mesmas reformas). Temos, então, que desse intervalo de realidade logo se passou para uma crise política em França. Era do que menos a Europa estava a precisar, do fantasma de Marine Le Pen, de tacões agulha e chicote.
(Ferreira Fernandes - Diário de Notícias)
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015
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