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"Os portugueses não desistiram da política, muito pelo contrário. Estão aí as audiências televisivas dos confrontos entre Seguro e Costa para o provar. Os debates foram um espelho do que tem sido a campanha e o comportamento dos dois candidatos.
Seguro apostou numa estratégia de terra queimada.
Apostou nas primárias, não por convicção, mas porque quis ganhar tempo para criar um ambiente em que se tornava uma vítima e tentar arrastar Costa para um debate lamacento.
Era impossível organizar uma eleição deste tipo de forma satisfatória em tão pouco tempo. Como era de esperar, os problemas sucederam-se: mortos inscritos, pagamentos em massa e todas as misérias conhecidas. O PS deu uma péssima imagem dele próprio, e as pessoas interrogam-se sobre a possibilidade de um candidato a primeiro-ministro ser escolhido por chapeladas - as inscrições em massa, dos últimos dias, tresandam a aparelhismo. Seguro quis tudo isso: mesmo sabendo que com esta conduta a deterioração da imagem do partido - dizer que o presidente da Câmara de Lisboa, do seu partido, passa a vida à janela é dizer que não se devia ter votado no PS -, e da própria democracia seria inevitável, não hesitou em prossegui-la.
Seguro optou por um discurso puramente populista. Não percebo, aliás, que alguém, depois de ouvir as pseudopropostas sobre a "regeneração do sistema", as promessas de demissão em caso de ter de aumentar a carga fiscal (se um qualquer acontecimento inesperado forçar a esse tipo de medidas, sabemos que Seguro, se primeiro--ministro, fugirá), as insinuações sobre política e negócios, as autoafirmações de superioridade ética, o discurso do doutor de Lisboa face ao lavrador de Montalegre e as acusações de traição e deslealdade ao adversário, consiga chamar populista a Marinho e Pinto. Seguro está a tornar o discurso do PS igual ao dos populistas demagogos que enxameiam a Europa.
A persistência no tema da deslealdade e traição é difícil de explicar. Que Seguro o tenha feito quando ainda não se sabia se Costa tinha efetivamente apoiantes, enfim. Ora, depois da maioria das federações, dos apoios de tantos militantes de base, de praticamente todos os históricos do PS e quase todos os ex-secretários-gerais, é incompreensível ou, melhor, é estúpido.
Costa tem andado mal ao não divulgar quais seriam as suas linhas estratégicas de governação e de ainda nada ter dito de substancial. Costa pensa que basta deixar o atual secretário-geral do PS exibir a sua vacuidade pomposa e recordar a sua oposição violentamente abstencionista para que sejam evidentes as diferenças entre os dois. Mas tem de se exigir mais a alguém que quer ser primeiro--ministro.
Admitamos, é mil vezes preferível um candidato, de qualquer partido, que apenas enuncie ideias vagas numa campanha, mas de que se conheça obra que se possa avaliar, um discurso constante e ideias políticas, do que alguém que não hesita em embarcar num discurso populista, que não se importa de queimar tudo à sua volta e que utiliza ataques pessoais como arma. Infelizmente, em política, a esmagadora maioria das vezes, não se escolhe o melhor, escolhe-se o menos mau.
Sim, esta é uma eleição que interessa a todos, independentemente do partido em que se tenciona votar nas legislativas. E, especialmente no momento que atravessamos, precisamos dos melhores candidatos possíveis de todos os campos políticos. De populistas amuados é que não precisamos."