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"Pois este prestimoso Governo não se limita a cortar salários na função pública, a diminuir pensões e reformas a velhos e viúvos, a recrear impostos brutais sobre quem trabalha, a transformar o subsídio de férias e de Natal numa inexistência.
Este diligente Governo também quer ser amigo dos desvalidos e, por isso, traduz a raiva popular contra o poder num corte de 15% sobre as subvenções vitalícias de políticos desativados.
O Partido Popular do vice-primeiro-ministro Paulo Portas quis até mais: acabar com esse luxo que dá a 400 políticos uma média de 2300 euros mensais e que custa ao povo 9 milhões de euros por ano.
Parece uma reinterpretação da luta de classes: de um lado empresários e trabalhadores produzem riqueza, do outro pensionistas e políticos caducos aproveitam... Bom, não é bem marxismo, reconheço, é mais uma fábula da formiga e da cigarra escrita por um La Fontaine a tomar-nos por estúpidos - afinal a moral da história é empresários, trabalhadores, pensionistas e políticos na penumbra acabarem, todos, a pagar para o mesmo desatino sôfrego da troika.
Voltando ao princípio: este prolífico Governo não emite apenas leis para o comboio direto ao chumbo no Palácio Ratton, numa viagem incessante à procura do terminal "Morte da Lei Fundamental", para alegria do senhor Barroso e da senhora Lagarde, as últimas autodeclaradas vítimas da Constituição de 1975, extenuadamente revista sete vezes (sim, sete!) pelo centrão PS/PSD/CDS.
Este Governo vai também para além do esbulho generalizado e do populismo embaraçoso. Este Governo, repito, quer ser amigo dos desvalidos. A sério. E, por isso, criou uma medida genuína de tentativa de resolução dos problemas reais das pessoas.
Não estou a referir-me ao Orçamento do Estado para 2014, não. Também não estou a pensar na baixa do IRC...
Estou a pensar no programa de proteção das famílias incapazes de cumprirem o plano de pagamentos do seu crédito à habitação. Em novembro do ano passado entrou em vigor, pomposamente, a possibilidade de quem estivesse em atraso nas prestações poder renegociar o empréstimo em condições mais favoráveis.
Uma solução eficaz nesta área, diga-se, interessa particularmente aos bancos, pois andam a somar valores cada vez mais astronómicos em crédito malparado e isso, por este andar, ainda acaba numa tragédia.
A essa generosa medida, relatou ontem o Banco de Portugal, candidataram-se 1318 famílias e, no final do processo burocrático, foram aceites e beneficiaram dela 84 agregados... Sim, não estou a inventar, apenas oitenta e quatro, isto é, só 6,3% dos pedidos!!
...Estão, portanto, a gozar connosco."