quarta-feira, 16 de julho de 2014

Que fazer com Portugal?

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A experiência e os indicadores demonstram que o conceito de democracia, tal como o sonhámos ou concebemos, foi substituído por outro paradigma. O "cansaço democrático" tem muito que ver com uma ideia de passadismo, com a perda do "objecto estimado" trocado pela pressa da ganância e pela ascensão precipitada e com escassos princípios de uma geração "da insignificância." A crise europeia dos partidos teria, inevitavelmente, de se reflectir, pelos motivos apontados, em Portugal e nas organizações políticas tradicionais.
O PS está cindido porque a própria natureza das suas estruturas, a ausência de uma ideologia "de esquerda", e o abandono das velhas bandeiras por dirigentes pouco ou nada interessados em combater o "sistema", conduziram a um estado cataléptico. O pobre António José Seguro tem dado uma ajuda a esta insalubridade, mas ele não é causa, é resultado, e manifesta módica fibra em alterar o que está. António Costa provém de outra leva, e a apreensão que provoca, na direita e adjacências, surge como uma espécie de pecado capital. O susto que tem causado é semelhante àquele que o PREC ateou nos esquemas tradicionais de poder. O que não é despiciendo, tendo em conta o amorfismo em que vivemos. Mas, tenham calma, as águas voltarão a estar quedas. Os sinais são esses.
O PSD, historicamente um aterrador saco de lacraus, está mais dividido do que aparenta. E a Dr.ª Manuela Ferreira Leite faz-nos, pontualmente, o diagnóstico da situação, e esclarece-nos, sem rebuço nem dubiedade, estarmos a ser governados por um bando de mentirosos e de ineptos sem perdão. Haja Deus e haja Freud!
O Bloco de Esquerda, agrupamento simpático mas fervorosamente desorientado, vai-se desfazendo aos poucochinhos. A "linha" Miguel Portas, que ninguém em seu perfeito juízo sabe rigorosamente o que seja, ganhou outra aliada, com a dissidência de Ana Drago do interessante agrupamento. Sequer se vislumbra ou se adivinha o que virá a seguir, mas a prever pelas declarações de Drago, veemente e severa, ou o Bloco se coliga com o PS, ou não será. Induz-se que a direcção bicéfala pretende aliar-se, isso sim, ao PCP, e as reuniões havidas entre dirigentes de ambos os partidos caucionam as apreensões dos representantes da "linha" Portas.
Está tudo a desconchavar-se, e as referências que tinham alimentado os sonhos, os combates e as esperanças de gerações e gerações foram varridas pela ausência de responsabilização dos "tempos novos". Estes, propagandeados como bonançosos, depois dos "ajustamentos", oferecem o vazio e a indiferença como sinónimos de tranquilidade. E não assinalam a razão fundamental do arquétipo: a perda das lógicas democráticas. É a uma nova tragédia o que estamos a assistir.
(Baptista Bastos - Diário de Notícias)

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