"Os holofotes, melhor, os ouvidos estavam desta vez todos virados para Passos Coelho. A semana tinha sido pouco menos do que desastrosa para o primeiro-ministro: o debate televisivo que tinha corrido muito mal, a ideia peregrina de lançar peditórios para os lesados do BES, o diálogo com um cidadão em que se mostrou preocupado com a sua própria futura pensão e a já célebre discussão em que assegurava a uma senhora que ela não estava a ganhar menos do que há quatro anos. Passos parecia estar a deitar fora todo o esforço, profissionalismo e eficácia que a máquina eleitoral do PSD tem mostrado. Pelo lado de António Costa, a grande dúvida era se conseguia manter o nível de mobilização do eleitorado que adquiriu no debate televisivo e continuava a demonstrar que conseguia recuperar não só dos disparates de campanha do PS mas também se mantinha a mensagem clara e não voltava a cair no registo das dez ideias por dia.
Apesar da gafe sobre segurança social, Costa não desiludiu os seus apaniguados e continua a acalentar a esperança de conquistar os indecisos que não aprovam a governação e os suscetíveis ao discurso do voto útil à esquerda - como consta de todos os estudos de opinião, a maioria dos eleitores não aprova o desempenho do governo, o que não quer dizer que vote na oposição ou sequer que vote.
Todos os debates são diálogos com potenciais eleitores de um dado setor político e, sobretudo, com os já persuadidos. Nessa perspetiva, Passos recuperou parte do seu capital com os que ainda poderão votar na coligação e ressuscitou o entusiasmo dos já convencidos. No fundo, a novidade deste debate foi Passos ter mostrado que, querendo, não é um ativo tóxico como foi na última semana e pode até ser o centro da campanha da PAF. E isso, nestas circunstâncias, é uma vitória. Não há dúvida de que o seu desempenho no debate das rádios pelo menos reequilibrou a batalha entre os candidatos a primeiro-ministro. Isso pode fazer a diferença no resto da campanha.
A partir de agora, a grande incógnita é se Costa consegue convencer os descontentes com a governação a votar nele e se Passos consegue fazer que os que não vão votar nele também não votem em António Costa.
De uma coisa não há dúvida: a partir de agora a campanha vai estar concentrada nos dois candidatos e as máquinas vão passar para segundo plano. Como deve ser, diga-se."
(Pedro Marques Lopes - Diário de Notícias)
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