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Christine Lagarde produziu uma argumentação que gregos antigos não desdenhariam: se a discussão Grécia versus Resto do Mundo acaba hoje, 30 de junho, e Alexis Tsipras convocou um referendo para domingo sobre aceitar ou recusar o que se discutia, este "sim ou não?" é irrelevante porque vai pronunciar-se sobre o que já não existe. Certíssimo, até porque raciocinado pela patroa do FMI, sigla que contém Fundo e Monetário, coisas de números. Infelizmente para aqueles que gostam de guichets fechados, os gregos antigos em quem Lagarde bebeu a sabedoria - Górgias, Híppias, Trasímaco... - ficaram conhecidos por sofistas. Outros gregos, também antigos mas mais cotados no mercado moderno (isto para dar um argumento de autoridade que a madama entenderá), Sócrates, Platão e Aristóteles trataram de fazer chegar até nós que os sofismas têm uma lógica falaciosa. Aquilo que a Grécia e o Resto do Mundo discutiam e se concluía hoje era finanças - assunto deveras importante mas, apesar do que pensa uma atleta de natação sincronizada, não único. Para lá dele, do assunto das finanças, há um mundo mais vasto e subtil: o mundo. Para gerir este, foi inventada - antes dos gregos antigos, ainda no tempo dos australopitecos - a política. Olhar para um mapa é política... Isto para vos dizer que mesmo os amanuenses dogmáticos têm dias em que acordam. Que para isso precisem de esquerdistas amadores, é dramático. Mas pior seria a tragédia de não acordarem.
(Ferreira Fernandes - Diário de Notícias)
terça-feira, 30 de junho de 2015
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