quinta-feira, 11 de julho de 2013

O Cavaquistão

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"Cavaco Silva inaugurou ontem um novo tipo de negociação política e um novo estilo de governo. A negociação política é a da praça pública: tudo o que acontecer, acontecerá mais ou menos em direto e não ocorrerá jamais no recato do Palácio de Belém, que abdica para todo o sempre daquilo que durante anos nos andou a vender, a famosa magistratura de influência. Afinal, as negociações de bastidores - discretas, silenciosas e até eficazes - não existem, não servem para nada, são um logro total. O método Cavaco é mais básico, rudimentar e às três pancadas. O Presidente da República fala com os partidos, sindicatos e parceiros sociais com toda a pompa e circunstância durante dias, com fim de semana pelo meio, note-se o requinte de sadismo. No final deste longo e estúpido processo, o Presidente lê um discurso baralhado que lança a confusão absoluta no País. Abrem-se todos os cenários. Tudo é possível, até o impossível. Silva Peneda vai ser primeiro-ministro? Rui Rio?

Quanto ao novo estilo de governo, há aqui assunto para a ciência política, mas também há matéria para os seguidores desse grande maluco que era o Miguel Bombarda. Então é assim: daqui para a frente, o Governo de Passos é o governo iogurte. Embora tenha azedado, talvez até esteja definitivamente estragado, deve manter-se em funções até junho de 2014 (tem prazo de validade), mas se não for patriota o suficiente para encaixar esta menorização e enxovalho políticos sem paralelo histórico, então o Parlamento (e não a Presidência da República) tem condições constitucionais para encontrar uma solução. Qual? Bom, isso logo se vê, diz Cavaco sem dizer. Eleições é que não. Os investidores adoram estes filmes.

Talvez seja eu, que estou fora de Lisboa e tal, mas não entendo nada. Quer dizer: os mercados acalmaram-se, as bolsas subiram, Passos e Portas engoliram o orgulho e chegaram a uma decisão: manter as aparências mais uns tempos. Talvez um ano, talvez menos, talvez mais, logo se veria. Seja como for, estava a funcionar. O País já assimilara em grande parte a decisão, a maioria parlamentar apoiava o acordo e os mercados já o tinham até benzido. Eis senão quando o Presidente decide que isto, afinal, é uma extraordinária porcaria em que ele não acredita. O que faz? Demite o Governo? Nada disso: quer dizer, diretamente não o faz, mas na verdade faz sem fazer. Mas acaba por não fazer. É isto o pântano cavaquista. Que me caia um raio em cima se Passos e Portas aceitarem esta aberração - o tal governo iogurte. Isso não vai acontecer. Um Governo com prazo de validade não existe, não tem força para ajudar uma avozinha a atravessar a rua, quanto mais governar um país falido. Cavaco quer conduzir o País sentado no banco de trás, mas agora tem de escolher o motorista. Quem? Qual? Porquê? Até ver, hoje estamos muito pior do que ontem. É o Cavaquistão."(André Macedo - DN)


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